O
LICENCIAMENTO DOS CLUBES
Por, José Dias Pereira
Desde
que opinamos sobre diversos aspectos do golfe português, embora com especial
ênfase sobre a problemática dos handicaps, que sempre referimos o papel
relevantíssimo dos Clubes, as suas virtudes e insuficiências, a formação e
acompanhamento que a FPG deveria prestar, dando algumas sugestões sobre o
caminho a trilhar através de acções determinadas.
Estando em
curso o processo de reavaliação dos campos, processo este dinâmico a que os
Donos dos campos, FPG e até jogadores deverão estar sempre atentos, possuindo
os Clubes adequada ferramenta informática para a gestão desportiva dos seus
torneios e dos seus jogadores, havendo, para este particular da gestão de
handicaps, suporte de formação dado pela Comissão de Handicaps e Course Rating
(CHCR) da FPG, parece que estamos na altura de exigir da FPG, dos Clubes e dos
jogadores o escrupuloso cumprimento de todas as suas obrigações, já amplamente
divulgadas.
Começaremos
pelos Clubes que, estando entre o criador das normas (a FPG) e o destinatário
principal das mesmas (o jogador), são o elo mais importante desta cadeia.
No nosso artigo de Agosto de 2002 “Mesmo EGA,
melhor EGA”, escrevíamos:
“Embora
desconheçamos quais são as exigências feitas para um Clube ser filiado na FPG
parece-nos que, para além de cumprir com os aspectos burocráticos, só deveriam
ser aceites Clubes que apresentassem:
a) Número
mínimo de sócios.
b) Capacidade
técnica suficiente para organizar competições e gerirem abonos.
c) Possibilidade
de regularmente proporcionar, aos seus sócios, competições e a publicitação
de resultados e evolução dos abonos.”
Somos da
opinião de que é chegado o momento de criar um sistema de LICENCIAMENTO DE
CLUBES que, indo ao encontro destes princípios gerais, permita certificar,
especialmente no interesse dos jogadores nele filiados, a bondade da sua
actuação.
Não querendo
ser inovadores, pois muito do que escreveremos consta dos Regulamentos em
vigor, apresentamos, de forma mais sistematizada, algumas sugestões sobre como
poderia funcionar este sistema de Licenciamento de Clubes (LC) a ser concedido
pela FPG.
Nossa
definição e tipos de Clube
Clube de
golfe é uma organização jurídica com um número mínimo de sócios, Estatutos
aprovados e com uma Comissão Técnica e de Handicaps (CTH) que superintende na
actividade desportiva, mantendo a estrita observância de todos os Regulamentos
emitidos pela FPG. Tem como obrigação e objecto promover a realização regular
de torneios, para fomento e prática directa do golfe entre os seus
associados.
Esta é uma
definição correntemente aceite mas demasiado simplista no caso português.
Há Clubes Desportivos
típicos, em pequeno número, normalmente os maiores como Oporto, Lisbon,
Estoril, Quinta do Lago com instalações no próprio campo, influência na sua
preparação para os torneios, estrutura administrativa, corpo de associados com
bastantes possibilidades de escolha para cargos técnicos, preocupações
desportivas etc.
Outros
agregam jogadores segundo critérios meramente corporativos, sociais,
geográficos, de amizade ou até de vizinhança. Talvez se enquadrem melhor na
designação de Clubes de Praticantes pois promovem actividades físicas e
desportivas mais com finalidades lúdicas e sociais.
Poder-se-ia
estabelecer uma classificação de Clubes segundo os seguintes critérios:
1. Localização da sede, próxima ou no próprio campo de golfe de referência.
2. Existência de CTH apta segundo a apreciação da CHCR, face ao comportamento
anterior.
3. Aplicação
atempada dos Regulamentos e recomendações seguindo as instruções da CHCR.
4. Promoção
de pelo menos 80% dos seus torneios no seu campo de golfe de referência.
5. Maioria
de resultados válidos da globalidade de sócios efectuada no campo de
referência.
6. Publicitação de resultados de torneios e lista de handicaps a todos os
sócios.
7. Possuam
mais de 75 sócios como clube de filiação.
8. Promovam
15 ou mais torneios por ano com média mínima de 30 participantes.
E em três
grandes categorias:
A – Clubes
que obedece aos requisitos 1 a 8
B – Clubes
que não cumprem apenas 1 e 7 ou 8
C – Todos
os outros.
Apreciação
dos Clubes
A informação
que o programa Datagolfe actualmente fornece, quando trabalhada, permite à
CHCR fazer facilmente uma apreciação do cumprimento da maioria dos quesitos
arrolados. Outro tipo de apreciação, a que nos referiremos mais à frente, terá
de ser feita numa 2ª fase.
A
diferenciação em 3 grupos definiria temporalmente as avaliações e
acompanhamento a fazer pela CHCR, sendo que os Clubes do Grupo A teriam o seu
desempenho avaliado anualmente, os do Grupo B semestralmente, tendo o Grupo C
uma avaliação continua.
Clubes
iniciandos na sua actividade começariam pelo Grupo C e depois
reclassificados.
Perca e
recuperação do estatuto de Clube licenciado pela FPG
É evidente
que um Clube do Grupo C que não cumpra com os Regulamentos, especialmente no
tocante aos requisitos 2 e 3, não poderá estar licenciado pela FPG para poder
organizar Competições Válidas ou ser Autoridade de Handicap, ficando os seus
jogadores sem handicap o que causará prejuízos graves que se terão de obviar.
Defendemos a
intervenção da CHCR, junto da Direcção e CTH do Clube em falta, para
identificação das situações anómalas e forma de as ultrapassar, sendo
concedido um prazo para sua correcção. A prática sistemática de situações
faltosas não poderá ser tolerada.
Relativamente aos jogadores que ficariam sem handicap recorrer-se-ia a uma
situação transitória em que, durante determinado período, a FPG se ocuparia de
os manter em situação regulamentar.
Mas numa
fase posterior precisamos de mais
E o que
queremos mais refere-se à melhoria na organização de torneios onde muitas
vezes campeia infrene a maior das incompetências e indisciplina entre os
organizadores sejam Clubes ou sócios institucionais da FPG.
Torneios por
pancadas onde se fazem arranjos na Ordem de Saídas para se disputarem
simultaneamente jogos por buracos, provas na modalidade de “stableford net”
onde há prémios “gross” não acumuláveis nem hierarquizados, jogadores com
handicap de clube jogando fora do seu Clube e contando para a classificação,
jogadores sem handicap misturados com jogadores com handicap e marcando os
cartões de resultados, Regulamentos de provas de clausulado insuficiente etc,
etc. Tudo isto desprestigiante para o Jogo, prejudicial para os participantes,
desanimador para os patrocinadores que investem numa excelência que não lhes é
proporcionada.
Se juntarmos
a este conjunto de irregularidades a forma como se desenrolam as competições,
muitas vezes ao arrepio das condições de handicap, teremos uma ideia do que
muito ainda falta para chegarmos a um estádio ideal do nosso Jogo.
Posição da
FPG
Os Clubes de
golfe só se filiam na FPG desde que esta os aceite e que tal aceitação seja
ratificada em Assembleia-geral. Não pode, portanto, a FPG eximir-se à sua
quota-parte de responsabilidade quanto aceita uma adesão sem se certificar da
capacidade técnica do Clube. Também neste caso e em quase todos os nossos
escritos fazemos apelo a que se tomem algumas medidas tendentes a melhorar a
situação do nosso golfe. Limitamo-nos a transcrever o que, desde há anos,
vimos dizendo e escrevendo:“
-
Editar e
divulgar opúsculos que tratassem da gestão dum Clube em geral e da
organização de competições (há publicações da USGA e R&A sobre esta
matéria), cujo conhecimento, juntamente com ”O sistema de handicap EGA”,
constituiria o patamar teórico mínimo da capacidade técnica
-
Obrigar os
Clubes que evidenciem falta de capacidade técnica, ou que se pretendam
filiar na FPG, a possuir número suficiente de sócios habilitados a
integrarem comissões técnicas e de handicap.
-
Criar uma
Comissão de acompanhamento dos Clubes que daria a formação básica
necessária, zelaria pelo cumprimento das normas técnicas essenciais e
aferiria da capacidade dos integrantes das comissões.”
Conclusão
Esta a nossa
opinião, mais uma vez expressa. Eventualmente outros caminhos haverão, mas se
a FPG não for rigorosa no cumprimento dos seus critérios de aceitação de
Clubes e na sua forma de actuar a situação tenderá a piorar.
Mas o Golfe
tem de se desenvolver e o aumento do número de jogadores é, para tal,
fundamental. Há também que procurar novas soluções que, contemplando a
observância dos preceitos, permitam aos jogadores a prática do seu desporto,
sabendo estes que a utilização de infra estruturas caras como é um campo de
golfe terá sempre alguns custos.
Dezembro de 2005
J. Dias Pereira
zdp@sapo.pt
Membro da Comissão Técnica e de handicaps do Clube de Golfe do Estoril |