Salvador Costa Macedo apoderou-se do seu 2º troféu nesta competição,
replicando o êxito de 2013. Como no ano passado não participou no Estela
Golf, houve um certo sabor a revalidação do título neste triunfo
averbado com 150 pancadas, 6 acima do Par, ao entregar cartões de 73
(+1) e 77 (+5), superando Gonçalo Xavier por 1 “shot”.
Rivalidade a dois no torneio feminino
A versão feminina do Campeonato Nacional de Mid-Amateurs BPI tem
proporcionado uma rivalidade entre duas jogadoras nos últimos tempos. Se
Paula Saúde venceu pela terceira vez em quatro anos, Marta Lampreia foi
campeã nacional em 2007 e 2011, sendo ainda vice-campeã nos últimos três
anos.
Só Mafalda Magalhães, do Multiplica Estrelas Clube de Golfe, tem
conseguido imiscuir-se, ganhando a prova no ano passado e sendo 3ª
classificada este ano.
Paula Saúde explica que «é uma rivalidade saudável, damo-nos bem, nunca
nos incompatibilizámos no campo, mas somos mais rivais por ausência de
outras. Não é porque sejamos melhores, de modo algum, mas as outras não
aparecem. Na Aroeira, em 2012, ainda houve um leque de jogadoras
aceitável. A partir daí tem sido uma pobreza». E a renovada campeã
nacional chega a admitir que «a Marta tem um potencial muito superior ao
meu».
E foi Marta Lampreia, do Clube de Golfe do Paço do Lumiar, quem começou
melhor, com 81 pancadas, na primeira volta, mas depois fez 87 no segundo
dia e foi superada pela regularidade de Paula Saúde que assinou dois
cartões de 83.
A vantagem de 2 pancadas com que Lampreia partiu para a última volta
estava anulada quando foram ambas para o tee do buraco 4, devido aos
bogeys cedidos no 1 e no 3. Perdeu mais 2 pancadas no 5 e no 6 e essa
desvantagem de 2 “shots” veio a revelar-se irrecuperável, como explicou
a vencedora: «Fiz 6 pares seguidos para começar a volta, o que terá
deixado a Marta um pouquinho assustada e, a partir daí, foi uma questão
de não perder o tino».
A economista que colaborou «em comissões técnicas em Troia e no Estoril
e na Comissão de Handicaps da FPG» não encara esta vitória como a mais
importante que viveu porque nunca esquecerá os inícios da sua “carreira”
na modalidade, provando que não é obrigatório ser-se brilhado nos
escalões etários juvenis para se ser bem cotado nos mid-amateurs ou nos
seniores: «Comecei a jogar golfe em 1997 e em 1998 houve um Campeonato
Nacional de 1ª e 2ª Categorias. Como era em Troia, o campo onde comecei
a jogar, lá fui, apesar de ter um handicap de 4ª Categorias, mas as
pessoas assustam-se de vir jogar a Troia e eu fui experimentar. Quando
dei por mim, estava na final com a Lara Vieira (que 4 anos depois seria
campeã nacional amadora absoluta). Não consegui ganhar-lhe, mas foi a
minha primeira taça da FPG ao cabo de apenas um ano e meio de jogar
golfe. Esse título de vice-campeã nacional de 2ª Categorias foi giro por
ser o primeiro e por ser inesperado».
Portanto, 2015 não foi o mais importante e também não foi o mais
complicado: «O primeiro título de Mid-Amateurs talvez tenha sido o mais
difícil, porque em 2012 havia mais participantes. Por exemplo, todas as
minhas amigas do Estoril foram, o torneio foi mais exigente e tive sorte
em conseguir ganhar».
Mas se não foi o mais importante nem o mais exigente, nem por isso o
êxito de ontem deixou de ter um sabor muito especial: «Foi um enorme
desafio, porque tenho estado a jogar mal, com problemas nas costas, mas
não deitei a toalha ao chão. Tentei pôr alguma ordem no meu jogo. As
coisas não correram bem porque o resultado não é brilhante, tenho a
consciência disso, mas face ao que estava a jogar foi muito bom. Só eu
sei quão bom é, sobretudo depois de a Marta ter feito o melhor resultado
no primeiro dia. Foi um desafio gratificante ter entrado bem em jogo na
segunda volta».
Estes três títulos em quatro anos manifestam um domínio na prova que nos
remete para o tricampeonato de Teresa Matta (entre 2004 e 2006), mas
Paula Saúde tem a noção de que ser campeã nacional não faz dela
necessariamente a melhor jogadora portuguesa neste escalão etário: «Já é
a 3ª vez que sou campeã mas isso deve-se também à falta de
competitividade das minhas companheiras, na medida em que conheço quem
jogue melhor do que eu, tenho amigas que jogam melhor do que eu, mas não
vêm aos campeonatos. Isso facilita-me a vida».
Jogadoras que marcaram uma época do golfe nacional, como Lara Vieira,
Inês Mendonça e mesmo Patrícia Nunes Pedro, poderiam reforçar este
torneio se quisessem participar.
1 pancada decidiu torneio masculino
Também Salvador Costa Macedo julga que o torneio masculino poderia ter
sido mais participado, embora 86 jogadores seja um elevado número de
competidores: «Faltaram outros 15 ou 20 que também teriam hipóteses de
lutar pelo título. Por exemplo, o José Maria Cazal Ribeiro, o Miguel
Franco de Sousa, o António Castelo, o Ricardo Oliveira, mas o nível foi
bom e só faz falta quem lá está».
Ao contrário do que sucedeu com Paula Saúde, para Salvador Costa Macedo
a vitória de ontem foi mais difícil do que a de há dois anos. Em Troia,
o diretor de golfe do Quinta do Peru Golf & Country Club começou logo
com uma vantagem de 5 pancadas aos 18 buracos e só por culpa própria (5
bogeys nos últimos nove buracos) foi permitindo a recuperação de Rogério
Brandão, acabando por vencer por 1 pancada.
Dois anos depois, voltou a impor-se por 1 “shot”, mas o equilíbrio foi
muito maior. Arrancou para o segundo dia com a vantagem mínima sobre
Bruno Vantieghem e chegou mesmo a perder a liderança quando se dirigiu
para o buraco 3 da segunda volta, depois do jogador da Aroeira ter
começado com 2 birdies seguidos.
Para mais, desta vez o perigo não se limitou ao seu grupo, até porque
Bruno Vantieghem e Carlos Guerreiro (cinco vezes campeão da prova) foram
perdendo terreno aos poucos, ao ponto de terminarem, respetivamente, no
8º (+15) e 7º (+13) lugares. Foi preciso, sobretudo, ter atenção ao que
iam fazendo outros jogadores, como Gonçalo Xavier, do Golfe Benfica, ou
Filipe Salazar de Sousa, também do Peru, que fez a melhor última volta
(73, +1), não perdeu qualquer pancada no “back nine”.
Sendo o agora bicampeão nacional um distinto comentador de golfe na
SportTV, com boa capacidade de comunicação, vale a pena deixá-lo narrar
o modo como foi vivendo as emoções:
«Depois dos primeiros 27 buracos pensei: “isto está controlado, estou
seguro, consistente”. Ia no total com +1, só faltavam nove buracos, era
não jogar para as bandeiras, não tentar dar grandes “shots”, só colocar
a bola em jogo e tenho grandes hipóteses. Estava a jogar com o Carlos
Guerreiro e o Bruno Vantieghem e controlava os resultados deles.
«Estava um pouco mais de vento no segundo dia e nos segundos nove
buracos comecei a apanhar o vento de frente, da esquerda para a direita,
a minha maior fraqueza. Fiquei logo pouco confortável. É aí que se sente
a falta de ritmo de jogo. Fiz duplo-bogey no 10 por ter de jogar para o
lado duas vezes; fiz 3 putts no 11 e aquilo começou a mexer com a minha
cabeça; no 12 fiz 1 bom birdie que me acalmou um bocadinho; no 13, de
novo com o tal vento, dropei uma bola e veio outro duplo-bogey; no 14
tinha vento a favor e fiz birdie; no 15 arranquei um bom Par e no 16
também, mas tudo muito sofrido; no 17, outra vez com o mesmo vento,
dropei outra bola e sofri novo duplo.
«Cheguei então ao tee do 18 com um agregado de +6. No 13 ou no 14
tinha-me cruzado com o Gonçalo Xavier e perguntei-lhe pelos resultados.
Sabia que ele estava a jogar bem e que vinha com +3 ou +4 no dia,
enquanto eu vinha com +3. Eu pensei que ele tinha feito +3 ontem, +4
hoje, eu vinha com +4 no total, não tinha grande margem, eram 3 pancadas
que se perdem fácil num ou dois buracos. Percebi que não podia olhar só
para os meus parceiros e que tinha de ter atenção ao que se passava à
frente.
«Tudo isso influenciou, até porque não estou habituado a estar nessa
situação de liderar e ter de gerir o resultado. No 18, muito sofrido, um
Par-5, tive um 3º “shot” ao “green” de 70 metros e fiquei a 15 da
bandeira. Um dos problemas com que me debati em todo o torneio foi no
controlo da distância dos “greens”.
«Sabia que estava com um total de +6, não sabia o resultado com que o
Gonçalo tinha acabado, mas achei que ele estaria com +6 ou +7. Eu tinha
um “putt” de 15 metros para “birdie” mas nem pensei no “birdie”, só
pensei em fazer 2 “putts” e mesmo assim ficava preocupado. Bati o
primeiro e fiquei aí a 1,5 metros, da direita para a esquerda, a subir.
Estava muito pouco confiante ou, pelo menos, não estava confortável, não
era daqueles que dissesse que iria entrar, que estava dado. E sabia que
tinha de meter aquele putt para ganhar por 1 ou para ir a play-off. Meti
o putt e não sabia se tinha ganho. Perguntei ao meu irmão mas ele não
sabia. Fiquei na dúvida e era uma sensação estranha, a de terminar a
prova e não saber se tinha ganho. Depois veio aquele longo caminho até
entregar o cartão e o Rui Frazão (do Departamento Técnico da FPG) também
não me disse. Só pude celebrar quando o Rui imprimiu as classificações e
vi que tinha ganho por 1 pancada».
Depois da ansiedade veio a celebração. Apesar de ter sido sempre um dos
bons jogadores da sua geração, Salvador Costa Macedo só foi campeão
nacional de pares mistos (em 2003, com Patrícia Nunes Pedro), antes
desta “dobradinha” nos Mid-Amateurs em 2013 e 2015: «Fui campeão
nacional de pares mistos e fui 6º num Nacional Amador no Ribagolfe-1 há
muitos anos (2007). Nunca fui um dos jogadores de topo, andei sempre ali
discretamente com top-15 e top-20, às vezes um top-10. Por isso, fiquei
todo contente com esta vitória, por ser de novo campeão nacional. Há
dois anos a surpresa foi maior e isso preparou-me, de certa forma, para
este ano porque já sabia que tinha possibilidades de ganhar».
O diretor da Orizonte Golf tem jogado no Campeonato Nacional de Clubes
Solverde e nos torneios do PGA Portugal Tour que passam pelo “seu” campo
do Peru. Às vezes tenta ir às etapas do Circuito Liberty Seguros, mas
sente que este triunfo de ontem tem muito mais a ver com questões
mentais do que com um elevado momento de forma:
«Preparei-me, mais que não seja a nível psicológico. Estava preparado
para lutar pela vitória. Em termos técnicos não consegui preparar-me
como queria, mas ainda fiz uma volta e meio de treino no Ribagolfe-2 na
semana anterior e bati umas bolas para preparar-me o possível para este
torneio. Psicologicamente já vinha há uns dois meses a pensar no torneio
e a preparar-me para estar na luta.
«Noto que estou consistente e que a idade traz a experiência. Não sou
demasiado ambicioso, não tento dar um drive de 300 metros, é preferível
jogar com o que temos. Já não podemos treinar aquilo que gostaríamos e a
experiência faz-nos ganhar mais pancadas e traz-nos a gestão das
expectativas. Sei que não tenho treinado o que gostaria, pelo que, tudo
o que vier a mais é bónus. Não ponho a fasquia muito elevada, não coloco
demasiada pressão sobre mim mesmo em fazer resultados baixos e isso
leva-me a jogar buraco a buraco. Como alguém dizia, uma volta são 18
trabalhos e acabando o 1º trabalho vai-se para o 2º. Joga-se
tranquilamente e o que vier, vem.
Outro aspeto marginal mas curioso tem a ver com o facto de jogar melhor
desde que comenta semanalmente os melhores do Mundo no PGA Tour e no
European Tour: «Tenho pensado que talvez tenha a ver com o facto de
estar na SportTV, onde estou a vê-los jogar, a reparar na estratégia que
seguem, como procuram estar sempre em jogo. Eu também sinto-me muito
mais em jogo. Quando jogo mal não faço muitas. É engraçado mas acho que
isso tem a sua influência no meu jogo».
Novo regulamento
Desde 2010 que o mais importante torneio nacional para jogadores com
mais de 35 anos não se disputava nos campos da Herdade de Vargem Fresca,
integrados no Grupo Orizonte Golf. Este ano houve a novidade de os
regulamentos terem sido alterados para admitir jogadores que em 2015
completam 30 anos.
«Ainda não conseguimos que muitos mais jogadores tenham participado no
torneio por causa disso, mas talvez por ser um primeiro ano e haver
muitos que não tenham tomado conhecimento, apesar de termos publicado
notícias sobre o assunto no Facebook e de termos colocado o regulamento
no site da FPG. No entanto, é uma boa medida porque aumenta a
competitividade. E tivemos um bom número de participantes este ano»,
disse o diretor-técnico nacional da FPG, João Coutinho, referindo-se aos
91 participantes (86 na prova masculina e 5 na feminina), superando
claramente os 67 em 2014 e 59 em 2013.
Para Paula Saúde, foi algo surpreendente não haver mais participantes
com menos de 35 anos: «Gostei da alteração no regulamento e acho que
deve fazer-se tudo para melhorar a competição. Tinha até a esperança de
que aquela leva das miúdas da Madeira, já com 30 anos, pudesse aparecer
e dar alguma vida e uma lufada de ar fresco ao Campeonato. Foi uma
surpresa não ter visto ninguém. Nos homens também sei que ficou um pouco
abaixo das expectativas porque o João Coutinho disse-me que só 5
jogadores com menos de 35 anos se inscreveram. Mas, enfim, houve uma boa
adesão. As pessoas não leem lá muito os regulamentos. Eu trabalho no
golfe em vários domínios e lembro-me de num ano a FPG ter permitido
equipas mistas no Campeonato Nacional de Clubes Mid Amateurs e eu ter
sido a única senhora a inscrever-se».
Por seu lado, Salvador Costa Macedo apreciou ter-se sagrado campeão num
ano em que houve um aumento do número de participantes: «Foi um torneio
com 86 participantes, o que é um bom indicador e uns 15 estavam a lutar
pela vitória. Gostei do nível de jogo, diverti-me imenso porque alia bem
a componente competitiva à de reencontrar amigos».
Com efeito, se olharmos para os participantes e não para os inscritos
(que foram mais, mas houve várias desistências e faltas de comparência),
o Campeonato Nacional de Mid-Amateurs BPI contou com 91 jogadores, 86
homens e 5 senhoras, superando os 67 competidores de 2014, os 59 de 2013
e os 78 de 2011. Na presente década, só os 99 inscritos de 2012, na
Aroeira, superaram os dados deste ano.
Resultados
Os principais resultados finais foram os seguintes:
Torneio feminino
1ª Paula Saúde (Club de Golf do Estoril), 166 (83+83), +22.
2ª Marta Lampreia (Clube de Golfe do Paço do Lumiar), 168 (81+87), +24.
3ª Mafalda Magalhães (MECG – Clube de Golfe), 173 (86+87), +29.
Torneio masculino
1º Salvador Costa Macedo (Quinta do Peru Golf & Country Club), 150
(73+77), +6.
2º Gonçalo Xavier (Golfe Benfica), 151 (75+76), +7.
3º Filipe Salazar de Sousa (Quinta do Peru Golf & Country Club), 153
(80+73), +9.