Não é todos os dias que a
bandeira nacional ocupa o lugar mais elevado do pódio nem que o hino “A
Portuguesa” é tocado em torneios da Associação Europeia de Golfe (EGA),
e o Postolowo Golf Club, a 26 quilómetros de Gdansk, entrou
necessariamente para a história do golfe português.
Há um ano, Portugal ficou em
15º e penúltimo lugar da 1ª Divisão, na Finlândia. O objetivo era
regressar este ano ao escalão principal e tudo foi preparado
minuciosamente para consegui-lo.
No estágio que antecipou a
digressão à Polónia houve um momento em que os responsáveis técnicos se
dirigiram mais formalmente aos jogadores.
Conta João Coutinho:
«Disse-lhes que não me sentia um diretor-técnico de Segunda Divisão e
que o Nuno Campino não era seguramente um selecionador nacional de
Segunda Divisão. E depois perguntei-lhes: “E vocês? Sentem-se jogadores
de Segunda Divisão?” Responderam-me que não».
Nos últimos quatro dias a
resposta foi dada dentro do campo por Tomás Silva, Vítor Lopes, Gonçalo
Costa, João Girão, Tomás Bessa e Pedro Lencart, estes dois últimos a
estrearem-se em Europeus.
Essa resposta não poderia ter
sido mais convincente, na medida em que a presença na final já dava o
passaporte para a Primeira Divisão, mas os jogadores fizeram questão de
conquistar o título e de saírem invictos de uma competição que,
recorde-se, começou com João Girão a liderar o leaderboard da fase de
stroke-play. Na altura era impossível adivinhar, mas estava dado o mote.
Um dos aspetos mais importantes
deste triunfo foi o espírito de equipa que fez com que houvesse sempre
um português a agigantar-se quando outro claudicava, fazendo com que no
cômputo geral se transmitisse aos adversários uma imagem de força
coletiva.
Essa imagem foi fundamental,
uma vez que, à exceção do 9º lugar de Tomás Silva no Europeu individual
de 2014, estes jogadores não estão habituados a posições de relevo em
Europeus ou Mundiais.
Não esqueçamos que e seleção
nacional masculina tem estado a sofrer uma enorme renovação nas duas
últimas épocas, depois de uma geração de ouro ter passado a profissional
nos últimos dois anos, com destaque para Pedro Figueiredo, Ricardo Melo
Gouveia, João Carlota, Gonçalo Pinto e Miguel Gaspar.
Com esta vitória na Polónia, os
novos membros da equipa nacional estão a mostrar serem capazes de forjar
uma nova geração de campeões e não foi por acaso que o n.º1 nacional,
Ricardo Melo Gouveia, esta semana na Eslováquia, a lutar por mais um
título no Challenge Tour, lhes dedicou uma mensagem no Facebook:
«Parabéns aos Tugas que venceram o Qualifying para o Campeonato da
Europa!»
Essa força coletiva foi provada
nos resultados. Na primeira fase, foi importantíssimo o primeiro dia de
João Girão, com aquele fantástico cartão de 68 (-4), num dia em que
Vítor Lopes, com o seu 79 (+7) esteve longe do que se precisava. Depois,
no segundo dia, foram Gonçalo Costa e Vítor Lopes a brilharem com 71
(-1) e Costa a mostrar que um português tinha nível para estar no
top-ten da classificação individual.
Quem apostaria antes da prova
começar que seriam os dois wild cards – Girão e Costa – a fazerem falar
mais de si na primeira fase?
«Uma vitória que mostrou também
que o ranking das equipas nacionais está bem organizado, visto que
apurou os melhores jogadores, e que o wild card foi bem dado», declarou
Nuno Campino, referindo-se a uma das novidades da época de 2015 – a
criação de um ranking das seleções nacionais, com critérios definidos
para cada prova, previamente conhecidos dos jogadores.
Depois, na segunda fase, vieram
ao de cima os dois esteios da seleção, os dois titulares dos Majors
amadores nacionais, o triplo campeão nacional amador Tomás Silva e o
vencedor da Taça FPG Vítor Lopes.
Juntos ganharam os seus dois
pares (foursomes), nas meias-finais com a Noruega e na final com a
Áustria. Individualmente também venceram os seus dois confrontos, o que
significa que garantiram sempre 3 pontos em cada match e Portugal bateu
sempre a Noruega e a Áustria por 4,5-2,5.
Frente à Noruega, nas
meias-finais, Tomás Bessa deu um alento fundamental à equipa quando ela
mais precisava e hoje foi Gonçalo Costa a desempenhar esse papel,
enquanto João Girão assegurou meio ponto por dia.
Quanto a Pedro Lencart, o
benjamim de apenas 15 anos, foi poupado dos singulares, porque tem sido
dos jogadores mais solicitados na primeira metade da época. Mas é de
salientar que naquela primeira fase em que Portugal só seguiu em frente
no 4º e último lugar de apuramento, ele contribuiu para o resultado dos
dois dias.
O selecionador nacional frisou
isso mesmo, o contributo de todos: «É uma vitória que tem muitos
sabores. É a vitória do trabalho organizado que já vem de há alguns
anos, da organização no estágio para este Europeu, que foi pensado para
obtermos os melhores resultados, juntamente com o José Pedro Almeida
(preparador físico) e o Gonçalo Castanho (psicólogo), de toda a
Federação Portuguesa de Golfe, designadamente da Comissão de Alta
Competição e da equipa técnica nacional. É importante ainda agradecer à
Compress Sport, à Gímnica pelo apoio a este grupo de trabalho. Foram
marcantes na preparação e recuperação da equipa».
Nesta altura, depois dos
festejos, depois do hino, depois de se ter a taça na mão, já parece
menos relevante saber como foi ganha a final frente à Áustria, mas Nuno
Campino sabe bem que foi mais difícil do que o resultado mostra à
partida.
«Os matches foram muito
equilibrados e tivemos momentos brilhantes. De manhã (nos pares) o Vítor
meteu um putt de 10 metros para fazermos 1 ponto e igualar os foursomes.
Um ponto que poderia fazer toda a diferença.
«De tarde (nos singulares) a
estratégia foi a mesma, de concentração, dedicação, coração e
inteligência, juntamente com garra.
«Perdemos logo o primeiro
match, do Tomás Bessa e era vital não perdermos o segundo match, o do
Costa. Ele estava abaixo por 1 buraco para o 17 e empatou-o com um putt
de 5 metros. Depois fez birdie no 18 para ir a play-off, ganhando no 1º
buraco de forma brilhante e muita maturidade.
«Depois disso, tudo correu bem.
O Vítor jogou bem, ganhou no buraco 15, e o João Girão estava a vencer
por 2 buracos com 2 para jogar, enquanto o Tomás Silva ia empatado no
18, pelo que só precisávamos de 1 ponto, e foi aí que o Girão empatou o
buraco 17 e ganhámos».
O Gabinete de Imprensa da FPG
solicitou a todos os jogadores que explicassem o que sentiram. Eis as
suas respostas:
Tomás Silva
«É um sentimento único. Quase
inexplicável. Este grupo é fantástico, a vontade, o crer e a ambição que
todos tivemos levou-nos a subir ao piso mais alto do pódio.
«Ouvir o hino nacional ao mesmo
tempo que segurávamos a taça foi o momento mais arrepiante que vivi
neste desporto.
«Não posso claro, deixar passar
sem dizer o quão importante foi o trabalho dos técnicos que estiveram
presentes aqui, o Nuno Campino e o José Pedro Almeida, pelo trabalho que
fizeram connosco, desde acordar às 5h30 para fazer uma ativação matinal,
até estarem connosco a motivar-nos e a analisar os aspetos menos bons do
dia. Foi sem dúvida muito especial».
Gonçalo Costa
«Foi um dia cheio de emoções…
sinceramente, duvido conseguir algum dia explicar o que senti. É algo de
único, que nunca irei esquecer.
«É uma sensação de dever
cumprido e de orgulho em toda a equipa, desde a comitiva que esteve
presente aqui na Polónia, a todos os intervenientes que tornaram esta
vitória possível: Comissão técnica da FPG e o psicólogo Gonçalo
Castanho.
«Foi uma semana fantástica e
que ajudou-nos a perceber que com trabalho conseguimos obter os
resultados que pretendemos. Agora é continuar e olhar cada vez mais para
cima».
João Girão
«Foi uma vitória muito
importante para todos. Para mim, este troféu tem uma grande importância,
até porque foi preciso muito trabalho para consegui-lo (referindo-se à
vitória no torneio de apuramento que lhe deu um dos dois wild cards),
tal como por parte de toda a equipa (não só meu). E estou muito
orgulhoso por ter conseguido representar Portugal nesta grande vitória».
Pedro Lencart
«Foi uma vitória muito
importante para todos, pois além de conseguirmos o nosso objetivo de
subir de divisão, fomos a melhor equipa do torneio.
«Foi a minha estreia neste
torneio e saio bastante contente com esta nova experiência. Para mim
esta vitória significa todo o esforço deste grupo de jogadores e
treinadores e também o grande orgulho de representar Portugal no torneio
de equipas mais importante do calendário».
Vítor Lopes
«Este título é bastante
importante tanto para a equipa como para a Federação Portuguesa de
Golfe. Tínhamos o objetivo de fazer uma boa prestação e treinámos
bastante antes deste torneio, o só demonstrou que valeu mesmo a pena.
«É sempre um orgulho ouvir o
nosso hino quando estamos a receber a Taça.
«Estou bastante orgulhoso da
equipa e acredito que foi um abrir de olhos para todos nós portugueses,
para acreditarmos na nossa qualidade e ambição».
Os resultados da final Portugal
4,5 – Áustria 2,5 foram os seguintes:
‘Foursomes’: 1-1
Lukas Lipold/Felix Schulz-João
Girão/Pedro Lencart, 2-1
Tomás Silva/Vítor Lopes-Michael
Ludwig/SeppStraka, 1up
‘singles’
Markus Habeler-Tomás Bessa, 2-1
Gonçalo Costa-Markus Maukner,
19º buraco
João Girão-Lukas Lipold, empate
Vítor Lopes-Felix Schulz, 5-3
Tomás Silva-Michael Ludwig, 2-1
Gab. Imprensa F.P.G.
12 de Julho 2015