«Ter conseguido esta vitória e em cima ter selado o nº1
do ranking do Challenge Tour… foi a melhor tarde de sempre, o melhor dia
de golfe de sempre que tive até hoje», disse Melo Gouveia, depois de
somar 275 pancadas, 13 abaixo do Par do campo desenhado pelo antigo nº1
mundial Greg Norman em Omã.
As suas voltas de 67, 67, 76 e 65 permitiram-lhe bater o
dinamarquês Joachim B. Hansen por 1 única pancada e conquistar a NBO
Golf Classic Grand Final, de 375 mil euros em prémios monetários.
«É ótimo poder entrar provavelmente nos 100 primeiros do
ranking mundial, não tenho a certeza mas julgo que irei entrar»,
acrescentou o atual 115º classificado, que ainda há pouco tempo fixou um
novo recorde nacional ao atingir o 113º posto.
Foi o seu terceiro título no Challenge Tour, depois dos
averbados no EMC Golf Challenge Open em 2014, em Itália; e no AEGEAN
Airlines Challenge Tour by Hartl Resort em 2015, na Alemanha.
Passa a ser o português com mais vitórias no Challenge
Tour, superando os dois de Filipe Lima (Segura Viudas Challenge de
España em 2004 e ECCO Tour Championship em 2009), enquanto Ricardo
Santos sagrou-se campeão do The Princess by Schüco em 2011.
Não contamos neste registo com os sucessos de Lima no Aa
Saint Omer Open em 2004 e de Santos no Madeira Islands Open BPI de 2012,
porque embora também contassem para o ranking do Challenge Tour,
detinham o estatuto superior de eventos do European Tour, a primeira
divisão europeia.
«Espero que os jovens portugueses olhem para estas
prestações e para as dos outros jogadores portugueses e sintam motivação
para entrarem nesta modalidade que é muito aliciante», considerou o
representante do Team Portugal, depois de ter agradecido no seu discurso
aos portugueses e brasileiros que o acompanharam no campo durante os
quatro dias de prova.
O algarvio que venceu o Campeonato Nacional Amador em
2009, que em 2014 já tinha sido o único português a vencer a Palmer Cup
(a Ryder Cup do circuito universitário americano), tornou-se hoje no
primeiro golfista nacional a conquistar a Grande Final e também a ganhar
o ranking do Challenge Tour.
Um ano depois de António Rosado ter terminado 2014 como o
nº1 da Ordem de Mérito do IGT Pro Tour na África do Sul, Ricardo Melo
Gouveia consegue superar essa marca por o Challenge Tour ter um estatuto
superior, dado ser um dos oito circuitos internacionais mais importantes
do Mundo.
Quando questionado pelo jornalista espanhol Alejandro
Rodríguez, do site especializado “Ten Golf”, sobre os seus sonhos
futuros, nem pestanejou: «Chegar a nº1 do ranking mundial, jogar Majors,
tentar vencer alguns e jogar a Ryder Cup. O Masters é o Major de que
gosto mais, seria o que preferiria vencer».
Sonhos à parte, é com os pés bem assentes na terra que
irá começar no final deste ano a competir na temporada de 2016 do
European Tour, para o qual estava praticamente apurado desde a vitória
na Alemanha: «O meu objetivo para a próxima época será manter em
primeiro lugar o cartão para o European Tour e entrar nos 50 primeiros
do ranking mundial, para poder jogar o máximo de torneios possível».
Esqueceu-se de referir os Jogos Olímpicos, mas esta
vitória deverá permitir-lhe aceder ao top-35 do ranking olímpico (outro
recorde nacional), sendo que os 60 primeiros competirão no Rio de
Janeiro em 2016.
O Gabinete de Imprensa do Challenge Tour preferiu
sublinhar um novo recorde deste circuito estabelecido por Melo Gouveia –
o de ganhos monetários numa única temporada.
A vitória na NBO Golf Classic Grand Final valeu-lhe 64
mil euros e ter fechado o ano como nº1 da Corrida para Omã rendeu-lhe um
bónus de 30 mil euros (uma novidade este ano).
Elevou, assim, o seu total de ganhos pecuniários em 2015
no Challenge Tour para 251.591,89 euros, superando por 8.612 euros o
total amealhado pelo italiano Edoardo Molinari em 2012, no ano em que
Filipe Lima foi 2º do ranking do Challenge Tour.
Este foi o 5º troféu da temporada para Ricardo Melo
Gouveia, o 2º no Challenge Tour.
Mesmo no início do ano, o profissional do Guardian Bom
Sucesso Golf venceu um torneio do Algarve Pro Golf Tour (no Morgado do
Reguengo Resort) e mais dois no PGA Portugal Tour: o Clube EDP PGA Open
na Aroeira e a Taça PGA Portugal Betterball no Bom Sucesso, este último
ao lado de Ricardo Santos por ser um evento de pares.
O responsável máximo do Challenge Tour, o francês Alain
de Soultrait, destacou no seu discurso na cerimónia de entrega de
prémios: «Duas vitórias, 11 top-10 em 17 torneios disputados, é o nº1 de
2015». Se lhe juntarmos o Portugal Masters, são 18 torneios ao mais alto
nível com um único cut falhado, uma regularidade inédita!
Uma regularidade que advém de uma força mental férrea, de
muito treino, de uma técnica simples e do espírito de campeão.
Hoje, sofreu no buraco 9 o seu único bogey do dia. Olhou
para o leaderboard, viu que estava a 2 pancadas da liderança, arregaçou
as mangas, converteu 5 birdies seguidos (12, 13, 14, 15 e 16) e fechou
com chave de ouro no buraco 18, diante de membros da família real do
sultanato, tirando uma bola do bunker para meter logo o primeiro putt e
vencer por 1 pancada. Classe, pura classe.
«Entrei no ritmo e foi quase como se estivesse em piloto
automático, estava a sentir-me um pouquinho nervoso mas não demasiado
porque estava “na zona” e simplesmente comecei a jogar muito bem nos
últimos nove buracos. Continuei a fazer birdies atrás de birdies»,
explicou.
Ricardo Melo Gouveia estava, naturalmente, feliz, mas a
cara do seu pai, Tomás, curtida pelo sol depois de cinco dias a puxar o
saco do filho sob temperaturas superiores a 30 graus centígrados, era
indescritível.
Há um ano, Ricardo veio a Omã e foi 9º classificado.
Sentiu-se só e este ano pediu ao pai que o acompanhasse como caddie. O
resultado foi o que se viu e o filho não se esqueceu dele na hora de
discursar.
«O meu pai esteve esta semana comigo a carregar-me o saco
e finalmente conseguiu uma vitória no Challenge Tour. Já ficou empatado
com o meu irmão (também Tomás, que foi o caddie de Ricardo este ano na
Alemanha).
«Agradeço a toda a minha família, a todos os portugueses
que estão em casa, à minha equipa, à minha namorada e a todos os que me
apoiaram ao longo da época», afirmou, depois de ter assinado autógrafos
e tirado fotografias com dezenas de pessoas, incluindo a família Guerra,
de portugueses residentes em Omã.
«Espero não voltar para o ano», concluiu, rindo, o seu
discurso, numa referência a que já estará na divisão superior, no
European Tour.
Mas se voltar, será muito bem recebido. Deixou saudades
em todos os membros do clube, da organização, do público.
A NBO Golf Classic Grand Final mereceu transmissão
televisiva em todo o Mundo. Em Portugal, os direitos são da SportTV que,
no seu canal 4, mostrará o resumo da vitória de Ricardo Melo Gouveia
hoje às 21h30, ou seja, em horário nobre, tendo antecipado em três horas
o horário inicialmente marcado.