Dois títulos ganhos pelo mesmo jogador na mesma prova,
com um intervalo de 12 anos e com algumas incríveis coincidências: Em
2004 terminou com uma volta de 66 pancadas e em 2016 começou com um
cartão igual; o vice-campeão foi em ambas as ocasiões o italiano
Alessandro Tadini, um dos melhores amigos de Ricardo Santos no circuito
profissional; e tanto em 2004 como em 2016 o título veio depois de
momentos de alguma crise na carreira do jogador de 34 anos.
Em 2004, Lima assinava ainda Philippe e representava
França mas tinha vivido alguns conflitos com a Federação Francesa de
Golfe, facto bem aproveitado pela Federação Portuguesa de Golfe para
convencê-lo a representar o país dos seus pais, o que veio a acontecer
em outubro desse ano.
Em 2016 o título de Filipe – ou José-Filipe como o
European Tour gosta de designá-lo – acontece depois de alguns anos
minados por lesões, sobretudo nas costas, problema que implicou uma
cirurgia.
Em 2015, em entrevista ao site especializado
“Golftattoo”, o português nascido em Versalhes explicou que vivia uma
situação financeira periclitante e que nem sempre tinha dinheiro para
viajar aos torneios. Isto depois de ter vivido épocas áureas em que, só
em prémios monetários, auferiu algumas centenas de milhares de euros por
ano.
Uma conjuntura nada fácil de gerir, sobretudo depois de
se ter casado e de ter constituído família, tornando-se pai pela
primeira vez em janeiro último. Ao mesmo tempo que ganhou outra
estabilidade emocional, também ficou com maiores responsabilidades.
É neste contexto que são mais do que compreensíveis as
lágrimas de alegria testemunhadas e descritas pelo press officer do
Challenge Tour no site oficial deste circuito.
«Estou muito feliz e é um momento emotivo para mim. Tem
sido tudo muito difícil, por causa de muitas coisas, as minhas costas
que me forçaram a parar e este ano tive um bebé, tem sido duro. Nem sei
como me sinto», disse ao press officer do Challenge Tour o profissional
que já representou os campos da Oceânico Golf e de Ribagolfe, mas que
agora está ligado a Saint-Nom-La-Bretèche onde o seu pai trabalhou
tantos anos.
«É enorme e é igualmente importante (comparação dos dois
títulos). São sensações diferentes, mas igualmente enormes», reforçou
aos media franceses, ele que passa a ser o primeiro jogador a vencer por
duas vezes este torneio em 20 edições da prova.
Terá sido aquele resultado de 66 logo no primeiro dia um
sinal de que a história iria repetir-se? Filipe Lima só pensou nisso a
sério hoje: «Foi estranho, porque quando vi o Tadini no topo da
classificação lembrei-me de 2004 e pensei “Uáu, eu e Tadini outra vez,
talvez isto caia para o meu lado hoje”… e tal como há 12 anos foi um bom
prenúncio».
Apesar do vento que soprou no campo de Lumbres, ao norte
de França, caracterizado por greens de linhas traiçoeiras, Filipe Lima
sentiu-se em casa e colecionou 19 birdies em quatro voltas, para 10
bogeys.
Há 12 anos tinha ganho com 5 pancadas abaixo do Par, hoje
fê-lo com -9 (275), após voltas de 66, 70, 71 e 68, batendo por 2 Tadini
e um jovem belga, Thomas Détry, a disputar aos 23 anos apenas o segundo
torneio como profissional e ambos concluídos no top-10!
«Há várias semanas que andava a jogar bem, mas não estava
a ter sorte nos greens. Agora, eu gosto deste campo, toda a gente sabe
disso e voltei a mostrar como isso é verdade. Eu não estava a sentir-me
como alguém que não vencia há muito tempo. Estava apenas a jogar e se
acontecesse seria golfe. É preciso estar sempre calmo e trabalhar muito
porque é assim que se tem sorte. Eu estou a trabalhar mais do que nunca
e talvez por isso também tenha tido mais sorte», analisou ainda a
quente.
Quem se lembra do 3º lugar de Filipe Lima no Open de
Portugal e de alguns top-10 no Open da Madeira consegue perceber como o
ambiente influencia os seus resultados. É daqueles jogadores que gosta
de sentir-se acarinhado, valorizado e isso acontece sempre que regressa
a Saint-Omer.
«Eu estava a divertir-me no campo, a gozar o meu bom
jogo, a apreciar as pessoas que estavam comigo. Foi assim a semana toda
e isso é o mais importante. Sinto-me bem, o meu jogo está bom e o meu
objetivo é, claro, terminar no top-15 e subir ao European Tour. Vou
focar-me agora no Challenge Tour e espero jogar tão bem como agora até
ao final da época», explicou.
Parte desse objetivo foi atingido. Os 32 mil euros que
embolsou hoje de prémio, convertidos em pontos, permitiram-lhe subir
exatamente 100 lugares na Corrida para Omã, para o 10º lugar e dão outro
desafogo financeiro.
Claro que ainda falta muito para se jogar, mas por duas
vezes na sua carreira terminou uma temporada como n.º2 no ranking do
Challenge Tour e, como ele próprio afirmou, sabe que é «suficientemente
bom» para regressar ao European Tour em 2017.
É também esse o objetivo de Ricardo Santos, outro jogador
que já provou, em 2011, que é capaz de usar o Challenge Tour como
trampolim para o European Tour. Nessa época, Ricardo Santos foi o n.º4
no ranking da segunda divisão europeia.
No Najeti Open, Ricardo Santos não foi feliz e falhou o
cut por 2 pancadas, com 146 (+4), após voltas de 75 e 71. O algarvio de
33 anos é agora o 34º na Corrida para Omã.
A vitória de Filipe Lima foi naturalmente celebrada no
meio golfístico português. João Coutinho, o diretor-técnico nacional,
não se esqueceu de referi-la na cerimónia de entrega de prémios do
Campeonato Nacional de Pares que a FPG organizou em Ribagolfe; os
bicampeões amadores de pares, Renato Ferreira e Tomás Bessa, enviaram
mensagens ao português residente em França através da FPG-TV; e Ricardo
Melo Gouveia, o n.º1 português da atualidade, deixou também uma menção
ao Gabinete de Imprensa da FPG.
«É uma excelente notícia para todos os portugueses,
especialmente para o próprio Filipe, que tem tido algum azar com lesões
nos últimos anos. Falei com ele na Suécia e disse-me que, nos torneios
do European Tour deste ano, estava a conseguir bons resultados, mas que
no Challenge Tour ainda não. Agora conseguiu esta vitória
importantíssima. Veio na altura ideal e vai-lhe dar com certeza muita
confiança para o resto da época», considerou o único golfista português
que irá estar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima são os dois únicos
portugueses com três títulos no Challenge Tour.
Lima ganhou o Segura Viudas Challenge de España em 2004,
o ECCO Tour Championship em 2009 e agora o Najeti Open de 2016.
Embora o Aa Saint Omer Open que Lima arrecadou em 2004
também contasse para o ranking do Challenge Tour, tinha na altura o
estatuto de evento do European Tour, tal como sucedeu durante muitos
anos com o Madeira Islands Open BPI.
Para além destes três troféus do Challenge Tour e um do
European Tour, Filipe Lima venceu ainda uma Segunda Fase da Escola de
Qualificação do European Tour em 2003 e o Masters 13 em 2004 e 2005.
Trata-se de um torneio do Alps Tour, uma das terceiras divisões
europeias. São estes os seus sete títulos internacionais.
Press-Release
F.P.G:
20 de Junho 2016
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