O Golfe Para Todos
Fernando Fragoso
O
‘golf para todos’ é aquele que a população dos diversos grupos etários e
socio-economicos duma qualquer cidade, pode praticar sem grandes
constrangimentos relativos: aos preços de utilização dos campos; aos meios de
acesso aos mesmos; ao tempo exigido para fazer um percurso de 18 buracos.
Assim, uma boa solução para
superar aqueles inconvenientes, que os campos de golfe tradicionais, em geral,
apresentam, será a utilização de campos de ‘Pitch & Putt ’.
Mas o que é o ‘Pitch & Putt
’?
O Pitch & Putt é uma
especialidade do golf, que se joga em campos de par 3 muito curtos, com
características próprias, e nos quais se utilizam ferros e bolas idênticos aos
daquele jogo.
Esta mesma realidade era
reconhecida pela Comissão de Regras do Royal and Ancient Club de Saint
Andrews (R&A), em carta de 1998 na qual dizia “ ... ser vontade desta Comissão
que as regras do P&P sejam, dentro do possível, as mesmas do golf ...’.
A European Golf Association
(EGA) também em carta do mesmo ano, reforçava esta ideia, de que, o P&P,
embora devendo ter gestão e regulamento próprios, era uma excelente introdução
ao jogo de golf.
História
O P&P nasceu na Irlanda em 1940
tendo, inicialmente, sido conhecido por ‘working men’s golf’, o golf dos
trabalhadores.
Com buracos não excedendo os 70
metros, num campo de dimensão máxima de mil metros, o jogo disputava-se com
material reduzido – um ferro e um putter.
Estes campos têm tido grande
sucesso, devido aos seus baixos custos de construção e manutenção, tendo,
muitos deles, sido criados por grupos de jogadores, amigos ou pertencentes a
uma mesma empresa.
Na Catalunha, província do
nordeste de Espanha, construíram-se, ultimamente, mais de 30 campos de P&P
onde se disputam, anualmente, muitas competições, cerca de 900 em 2005, número
que evidencia o sucesso que este jogo atingiu entre os mais de 11 mil
praticantes daquela região
Características dos campos
A EPPA – European Pitch &
Putt Association, organismo formalmente constituído em 2000, estipulou
que os campos de P&P, para poderem organizar torneios internacionais, deveriam
apresentar as seguintes características:
- possuírem,
de preferencia, percursos com 18 buracos e com comprimentos inferiores ou
iguais a 1.200 metros.
- terem
buracos com comprimentos inferiores ou iguais a 90 metros.
- apresentarem
‘pontos de partida’ feitos em relva natural ou artificial que permita a
colocação de tees.
e, adicionalmente:
- ‘pontos de partida’ únicos
para homens e senhoras
- greens, de relva natural
ou artificial, com dimensões, formatos e ondulações ao gosto de cada
arquitecto.
A este propósito diremos que nem
todos os campos de P&P possuem estas características, tendo as mesmas vindo a
ser exigidas pela EPPA às associações suas filiadas, deixando, contudo, ao
critério de cada país, a definição dos comprimentos dos buracos nas
competições nacionais.
Além destas características,
relativas à construção dos campos de P&P, a EPPA definiu que, nos torneios
internacionais, se deveriam utilizar apenas três ferros, sendo um deles,
obrigatoriamente, o putter.
A Associação Catalã de Pitch &
Putt , por sua vez, estabeleceu que nas competições domésticas, se
podia utilizar até seis ferros e o putter.
A Real Federação Espanhola de
Golf, influenciada pela realidade catalã, determinou que os campos de P&P
deveriam apresentar as seguintes características: uma área mínima de 5 ha para
um campo de 18 buracos; comprimentos entre um mínimo de 720 e um máximo de
2.160 metros; buracos com dimensões entre 40 e 120 metros; e, 'pontos de
partida', em relva natural ou artificial, deixando ao critério do jogador a
utilização de tees.
Construção dos campos
Os campos de P&P podem ter à
partida 6, 9 ou 18 buracos, todos de par 3, podendo ser construídos em
terreno próprio ou em áreas adjacentes aos campos de golf tradicionais,
usando, para o efeito, os mesmos greens e ‘pontos de partida’
próprios.
Alguns campos de par 3
existentes em Portugal terão de ser remodelados para obedecerem, pelo menos, às
características internacionais atrás mencionados.
Com vista a tornar a construção
dos campos de P&P mais económica, a Pitch & Putt Union da Irlanda, vem
recomendando aos clubes seus filiados que os campos sejam implantados em áreas
não superiores a 1,75 hectares, com greens com diâmetros máximos de 6/7
metros - o que significa greens com áreas de 40m2 – e
‘pontos de partida’ com as dimensões de 1,80 x 0,9 metros.
O custo de construção dum campo
de 9 buracos – não considerando o terreno - poderá orçar entre 250 e 350 mil
euros, incluindo neste valor todas as infra-estruturas associadas (campo,
putting green, pitching green, bate bolas e
clubhouse), bem como, todos os equipamentos, de jogo, de manutenção e
administrativos.
Vantagens dos campos de P&P
O sucesso destes campos está
muito ligado, como já o dissemos, a uma forte animação desportiva, pelo que se
deve programar, desde a abertura dos mesmos, um grande número de competições,
sejam elas internas ao clube, inter-clubes ou internacionais.
Estes campos, que são de grande
interesse para os bons jogadores de golf, porque lhes permite treinar o jogo
curto, são ideais para os debutantes – jovens, menos jovens e seniores.
A duração de jogo num percurso
de 18 buracos é de cerca de 90 minutos para uma formação de dois jogadores, o
que é um trunfo precioso para todo o golfista que dispõe de pouco tempo.
A lenda viva do golf, Jack
Nicklaus, numa recente entrevista que concedeu à Golf Digest dizia a propósito
do tempo despendido numa partida de golf o seguinte: “o golf está mais popular
do que nunca .... mas a maioria das pessoas tem cada vez menos tempo livre ...
a actual geração de pais novos passa mais tempo a supervisionar os seus filhos
do que as gerações anteriores ... é por isso que se deveria considerar a
possibilidade de reduzir para apenas 12 buracos uma volta standard ...
passando os campos de 18 buracos para três segmentos de seis buracos”.
As tarifas reduzidas que estes
campos permitem praticar, graças aos seus baixos custos de manutenção, é um
importante factor atractivo para muitos candidatos a jogadores de golf.
Outra razão porque os campos de
P&P cativam muitos jogadores, deve-se às localizações dos mesmos junto às
cidades – graças às suas reduzidas exigências de espaço – o que permite
aproveitar os meios de transportes públicos, facilitando a mobilidade dos
jogadores, em especial, a dos mais jovens, dando-lhes uma grande autonomia de
acesso aos campos, dispensando assim o acompanhamento de familiares.
Conclusão
Pelo que atrás referimos pode
dizer-se, sem sombra de dúvida, que o P&P é uma boa solução para aumentar o
número de jogadores de golf em Portugal o qual, actualmente, se cifra em cerca
de 15 mil praticantes.
Admitindo que o P&P possa vir a
ser regulado pela F.P.G., criando para o efeito uma Comissão de Pitch &
Putt , à semelhança da Espanha e da França, apontamos, desde já, algumas
tarefas que, em nossa opinião, deverão ser concretizadas por aquela
instituição:
- criar
e definir as funções da Comissão de P&P
- elaborar
o regulamento do P&P
- executar
recenseamento nacional dos campos de P&P
- homologar
os campos de P&P (constituição das equipas e custos a suportar pelos clubes)
- definir
o sistema de handicaps, tendo, provavelmente, como base o sistema EGA
- criar
calendário nacional e internacional de torneios
- preparar
treinadores para os campos de P&P (definindo as formações exigidas; as
remunerações recomendadas)
- inventariar
os treinadores disponíveis por região do país
6 de Agosto 2007 |