Então, boas tacadas XXVII
Carta
aberta a Miguel Sousa Tavares a propósito do seu artigo no Expresso de
03/03/07 intitulado
“Interesse nacional ou o saque de Portugal?”
De
que lado está você, Costello?
É fácil.
O top-soil, isto é, a
quantidade de terra arável que está a seguir à superfície é ínfima. Não dá
para quase nada. Talvez para a vinha. O caso do Douro, o do famoso vinho do
Porto, de que você tanto gosta certamente, é um caso nacional de desastre
ambiental. Mas para além do sobreiro e da cortiça - também é difícil de
entender como um país pequeno, como o nosso, é o maior produtor do mundo de
uma matéria-prima que tem origem numa árvore que cresce de 20 em 20 metros,
que leva duas gerações a crescer e só produz cada 9 anos, ( provavelmente
porque a terra não dava para mais ?), - o amanho da terra em termos
economicamente rentáveis, ou seja, em grande, é impossível.
Portanto da agricultura pouco
vem que dê substância à indústria. Esta só existe enquanto a globalização não
for global. Faltou-nos tratar do mar, essa grande riqueza esquecida. Acabamos
com os estaleiros, não fizemos a rede de frio e vendemos as quotas de pesca
aos nossos concorrentes. Quem assim decidiu foi muito aselha, mas julgo que
eles ainda estão no poder.
Claro que somos um país de
emigrantes. Como já havíamos sido de navegadores. Porquê? Porque somos heróis?
Não! Porque somos pobres. E desses pobres que emigraram para os brasis,
américas , europas e áfricas ( especialmente estas ), veio a riqueza que nos
faltava. O interior do país desenvolveu-se assim. Com o dinheiro dos
africanistas e dos bidonvilles.
E agora o que resta? O
dinheiro dos pobres europeus – sim daqueles que tiveram duas guerras mundiais
no século XX – que nos dão diariamente uma esmola de milhões de contos, há uma
série de anos , mas que também tem os seus dias contados. É o que ainda mantém
os governos em, aparente, democracia. Depois será o desastre. Não tenha
dúvidas.
A menos que... sim, temos o
melhor clima da Europa, aliás somos o melhor país do velho continente. Quem o
diz são os estrangeiros, porque nós ainda não o percebemos. Mas infelizmente,
meu caro Miguel, aquilo que é óbvio para toda a gente, não é para aqueles que
se encarregaram de fazer, depois da revolução agrária, a revolução ambiental.
Estamos em pleno período de PREC ambiental. Basta ver qual a área de REN ,
RAN e de Rede Natura 2000, em proporção dos 9 milhões de hectares do país.
Somos mais papistas que o papa. Até vamos ter que pagar emissões de CO2, com
a indústria falida que temos e com toda esta brisa atlântica. ( quem fez mal
as contas?). Alguém não está interessado em que nos desenvolvamos. Alguém
neste país está ao serviço da coroa espanhola, ou dos interesses dos
franceses, dos marroquinos, dos tunisinos, etc. Ou talvez deles próprios. É o
mais certo.
Houve alguém que uma vez me
disse que você era um tipo giro, com uma voz bestial, que escrevia muito bem,
mas que era perigosamente charmoso. Porque isso lhe permitia não ser
profundo.
Nestas coisas que você tem
escrito sobre o golfe, e os campos de golfe, e os caddies portugueses dos
escandinavos, e as bicas servidas aos reformados estrangeiros, ( e você não
serve ninguém ?), e a água que se gasta a regar os golfes, e os pesticidas e
os herbicidas que matam e envenenam os níveis freáticos, mas você não reparou
ainda que tudo o que escreve sobre golfe é de uma total e confrangedora falta
de conhecimento especializado? Prova-se cientifica e factualmente. E quando
escreve sobre outros assuntos – já não sei se os devo levar a sério – também
lhe saem assim tantas imprecisões? Ou você prefere um país de parques de
campismo, latas de Coca-Cola espalhadas pelo chão, cheio de lixo por todos os
lados? Não acha melhor termos projectos organizados, paisagisticamente
cuidados, que possam atrair turistas ricos, sim ricos?. Porque para pobres
já cá estamos nós. Ainda não percebeu que toda a área ocupada por todos os
campos de golfe de Portugal é inferior a 2,5 mil hectares e que isso é
0,000278% da área do país? Acha que é essa água que vai fazer falta ao país?
O resto dos raciocínios que
faz são, em cadeia, errados também. O mais evidente é confundir campos de
golfe com turismo de massas.
Se precisar de saber um
pouquinho mais sobre golfe e quais as saídas para o país estou sempre
disponível.
Talvez possa depois
reescrever o seu artigo “Interesse nacional ou o saque de Portugal”.
Um abraço de um golfista.
P.S. Odeio ver gente de
jeep no deserto. Como acho absolutamente horrível fazer golfes no deserto.
Então, boas tacadas ... será
sempre bem-vindo.
Então, boas
tacadas
Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt
26 de Março 2007 |