Então, boas tacadas XXXII
O
Golfe e a Terceira Idade
Depois de algum tempo de
silêncio eis me de novo em comunicação com os meus leitores.
Até que enfim!. Pensava
que nunca mais cá chegava. As vezes que pensei: “ que bom quando deixar
de trabalhar e puder jogar golfe todos os dias!”. Finalmente vou baixar
de handicap e voltar a ser um “single figure”.
Pois é! Afinal não tem
sido assim. Os meus amigos bem me dizem para levar uma nova vida, para
me adaptar a novos ritmos e aproveitar a situação para jogar mais vezes
golfe por semana.
Estou contudo naquela fase
em que tenho complexos de não trabalhar num regime de “nine to five” o
que, no caso português, um pouco estupidamente, é mais “ten to twenty”.
Mas complexos? Porque raio é que tenho complexos? São hábitos. O facto
de num dia de semana não usar fato e gravata e andar na rua ainda com
este meu ar de “jovem adulto”, como se achava o Sartre – e eu também –
leva-me a sentir os “olhares” dos que trabalham: “lá vai mais um
desempregado”.
E é verdade. Vou
contar-vos a minha ida ao Centro de Emprego em Benfica. No dia em que lá
fui, a 8 de Janeiro deste ano, a menina muito simpática que me atendeu e
que falava um excelente português, colocou no impresso respeitante à
minha inscrição um número 21 mil e qualquer coisa. Perguntei-lhe o que
queria dizer aquele número ao que ela respondeu : “é o número de
inscrição em todos os Centro de Emprego do país, desde o princípio do
ano”. “ E isso é muito ou é pouco?” perguntei. Como já repararam, até ao
dia 8 de Janeiro só houve 5 dias úteis. “ Bem, eu acho que é muito
porque no ano passado a média mensal foi de cerca de 10 mil inscrições”.
Claro que fiz as minhas extrapolações e dava para aí umas cento e tal
mil inscrições. Reparem que eu tenho o cuidado em não dizer
“desempregados”. “ Então, no mínimo teremos mais ou menos 50 mil por
mês, não é verdade?” perguntei. “Sim, sim, sempre para mais”.
É claro que não posso ir
jogar golfe! Nem baixar de handicap. Tenho que arranjar uma maneira de
aplicar aquilo que sei fazer e arranjar um emprego para mim e para mais
meia dúzia de pessoas. Só assim estou a contribuir para minimizar os
malefícios da globalização e a falta crónica de empreendedorismo que
existe em Portugal.
Confesso que já não sei se
estou a falar a sério ou a brincar. Mas nós os golfistas temos sempre
uma acção empreendedora de cada vez que jogamos golfe. Sem um objectivo
e uma estratégia ninguém joga uma partida. E precisamos de ter investido
em educação, em lições extremamente penosas, conhecer as regras do
mercado com grande profundidade sobretudo as de etiqueta, muita
prática, usar as novas tecnologias em bolas e tacos, dispor de algum
fundo de maneio para os primeiros três anos em que só se gasta e em que
os amigos ganham todas as partidas ou fazemos má figura, de preferência
arranjar um “banco” de amigos que invista em nós e no nosso “goodwill”,
e, depois, ir para o campo – para o mercado – usar de toda a
capacidade de inovação (que é o que está a dar) e, sem matar o inimigo,
tentar linchar a concorrência e contar sempre com alguns imprevistos
tais como “shanks”( faltas de pagamento) ou “tops” com impostos cada vez
mais altos.
Por isso meus caros
companheiros, não é tão cedo que me apanham a jogar a uma quarta-feira.
A menos que vá de “casaco e gravata” como se jogava há três séculos
atrás. Se calhar era uma maneira de reduzirmos a taxa de 40 e tal por
cento de jogadores seniores que há em Portugal!!!
Então, boas
tacadas.
Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt
31 de Março de 2008 |