O
Tiger também tem sido actor toda a sua vida. Que deve ser uma rica vida,
mas também muito chata. O pai levou-o ao que ele é: um autêntico robot
do golfe, à custa de muito treino desde os três anos de idade e também
de muito talento. Depois vieram as vitórias, a fama, os patrocinadores
e a fortuna imensa.
Depois do incidente com a mulher Elin, ele retratou-se e prometeu que ia
fazer um retiro para tentar ser uma melhor pessoa, melhor pai e melhor
marido. Não percebo: então o pai não lhe ensinou isso? Pelo menos a ser
uma boa pessoa? Agora vai treinar a ser isso tudo? Humm. Os americanos
começaram a chamar-lhe “cheeta” em vez de “tiger”.
E
aqui vêm as minhas recordações do Tiger Woods. Vou lembrar apenas duas.
A primeira foi num Open Britânico no Royal Lytham St. Annes. O drive do
Tiger no buraco sete, um longo para 4 de mais de 400 jardas, bateu na
borda do fairway , flectiu para a direita e foi bater na cabeça de uma
garota de 12 anos de idade. Ela foi levada logo dali acompanhada da mãe
até ao centro médico do Open e teve ainda a atenção do Bernhard Langer e
do Mark O’Meara que iam no grupo da frente. O Tiger entretanto chegou,
perguntou pela garota e naturalmente continuou a jogar, já que, apesar
de um pouco de sangue na cabeça, a pancada não tivera aparentemente
grande efeito.
No
dia seguinte de manhã, a jovem lá estava com a mãe, junto ao
putting-green, para pedir um autografo numa bola ao seu ídolo. Para isso
lho pediram, dizendo a mãe que a sua filha era a jovem que tinha levado
com a bola na cabeça depois do drive dele no buraco sete, no dia
anterior. “Agora não posso, estou a trabalhar”, foi a resposta do
grande Tiger muito comentada por toda a imprensa britânica.
O
segundo episódio foi no Open de 2005 em St. Andrews. O Tiger chega ao
72º buraco do torneio com cinco pancadas de avanço sobre Colin
Montgomerie. Podia chegar ao green com uma madeira cinco mas decidiu
jogar à defesa com um ferro cinco, um wedge – mau - que ficou no Sin’s
Valley e daí mais dois putts para a vitória. Ele apenas se esqueceu que
tinha a vê-lo na TV quase 1 bilião de pessoas, que esperavam dele mais
do que um shot comercial e/ou”inteligente”. Faltou espectáculo. Jogou
como um autómato. O tal robot.
Mas
o que na verdade todos estes acontecimentos funestos da sua vida
significam, é que a próxima vez que ele entrar em campo para jogar golfe
vai ser com as “Tiger Rules”. Ou seja: sempre que ele entrar numa
competição e a audiência da transmissão passar dos 1,5% para os 8,5% só
porque ele aparece no ecrã, serão as televisões a ter que pagar. É que
até aqui as televisões pagam aos PGA’s uma verba que dá direito à
transmissão de cada torneio sempre a tentarem “acertar” naqueles em que
o Tiger entraria e que por isso suscitariam maior interesse por parte de
patrocinadores. Independentemente do facto de o Tiger aparecer ou não no
ecrã. E como os patrocinadores lhe fugiram, para o terem de novo, vão
ter de pagar muito mais às televisões com quem o Tiger vai negociar.: as
“Tiger Rules” a que somará as sempre tentadoras “appearance fees”. Isto
é, o “Tigre” vai ficar cada vez mais rico.
E
com esta última presença do ano, me despeço dos meus leitores desejando
a todos um 2010 de “single figure” e, com muitas
E
boas tacadas,
Fernando Nunes Pedro
fernandonp@npgolf.pt