Revista de Imprensa

O "Handicap"

Por, António Carmona Santos

 

O abono ou «handicap», conforme é mais conhecido na ainda muito anglo-saxónica gíria do golfe, é um sistema que permite igualar, teoricamente, todos os jogadores, a partir do momento que tenham um qualquer abono, atribuído pela comissão técnica dos seus respectivos clubes ou associações.

Todos sabemos o que joga um 3 ou 4 de «handicap». Todos temos ideia da capacidade de jogo e das insuficiências de um 28 ou 30. É um bom processo, universalmente aceite e entendido, tanto por ingleses que o inventaram, como por japoneses ou outra qualquer raça que tenha tido a sorte e o bom gosto de se ter metido a praticar este belo jogo. A maneira de o conseguir é simples e lógica. Cada um é avaliado pelos resultados que o obtém. É nisto que o golfe ganha a muitas outras modalidades. É na sua universalidade. O abono dado por comissão técnica em Portugal é válido em toda a parte do mundo e todos os praticantes sabem logo com quem estão a falar em termos golfísticos.

Mas para se jogar golfe, não basta bater na bola, participar em provas ou fazer partidas com amigos. O golfe tem de ser jogado dentro de regras e de acordo com a sua etiqueta. Quando alguém se apresenta e diz que é isto ou aquilo de «handicap», nós, como se disse, ficamos a saber o que ele ou ela vale tecnicamente, mas quanto à «educaçãozinha de base»... isso só depois... e há cada surpresa!

Com a chegada de muitos praticantes e, sobretudo, sem o necessário enquadramento, há muito boa gente que está a aparecer no golfe, preocupando-se essencialmente com os aspectos técnicos ou, por exemplo, com a distância a que bate a bola ou ainda por quantas pancadas venceu os seus adversários nesta ou naquela competição, descurando a forma como se comporta em campo. Isto fez-me pensar que, se calhar, também devia haver um «HANDICAP» para classificar os jogadores em relação à sua atitude em campo (talvez também fosse boa ideia incluir o comportamento fora dele, mas isso já não é conosco...).

Há pessoas que não se importa de pagar seja o que for para que um profissional lhes ensine a ter um swing melhor, ou um qualquer truque para atirar a bola mais longe, sair de um bunker, utilizar melhor o puter, etc, etc. Mas quantos há que tenham frequentado cursos de boas maneiras? Há, evidentemente, alguns que jogam bem e se comportam perfeitamente. Para esses, os nossos parabéns. E os outros?

De uma forma geral, o golfe ainda é das poucas modalidades desportivas em que o jogo alia o prazer de competir com a boa educação dos praticantes. Mas essa característica está em perigo. O ambiente geral em que vivemos não privilegia as boas maneiras. Aprecia-se muito mais o grande feito atlético do que a correcta atitude desportiva.

Voltando assim à nossa ideia, teríamos um «handicap» técnico e um «handicap» social. Que tal saber que o senhor «A» era um 3 de «handicap» técnico porque batia a bola direitinha a 230 metros, nunca fazia mais do que 76 ou 77, fosse em que campo fosse, mas tinha um «handicap» social de 28? E isto porquê? Porque nunca reparava uma marca de pitch no green, não repunha a relva no campo depois de cada pancada, estava sempre a falar quando os outros iam jogar, caminhava 50 metros à frente dos seus adversários sem se importar com a posição das suas bolas, não dava passagem no campo a ninguém, mesmo que estivesse a perder terreno ostensivamente. Para além disso, quando falhava uma pancada, atirava com o taco por cima da vedação ou árvore mais próximas e, uma vez por outra, partia o taco contra um poste ou muro que estivesse à mão. Inversamente, teríamos o senhor «B», com um modesto «handicap» 26, mas com 2 de «handicap» social. Este não jogava nada direitinho, só fazia Par por acaso e perdia uma ou duas bolas em cada nove buracos, mas cumpria escrupulosamente as regras de jogo, não se lhe ouvia um pio enquanto os parceiros preparavam as suas jogadas, esperava a sua vez para jogar, quando falhava sorria e nunca deitava as culpas para outra coisa que não fosse a sua falta de técnica.

Ainda se podia classificar outro tipo de jogador. O senhor «C». Esse era 5 de «handicap» técnico, mas não tinha «handicap» social porque, para além de ser um selvagem no campo, também já tinha sido apanhado a mexer na bola no mato, partia ramos que incomodavam o seu swing e contava mal as pancadas que dava, enganando-se sempre a seu favor.

É claro que quem não tivesse «handicap» social não era admitido em nenhum campo, por muito bem que jogasse.

Acho que com este sistema saberíamos muito melhor escolher as nossas partidas e, se calhar, preferiríamos jogar com um parceiro que fosse um pouco mais «nabo», mas a que dava gosto tratar por SENHOR, do que com uma cavalgadura tecnicamente perfeita.

 


Opções de Retorno
- Revista de Imprensa - Menu - Indice Geral


Portugalgolf
Tel: 309 906 452 Fax: 309 906 452
E-Mail : portugalgolf@netcabo.pt
Copyright © 1996/2008. All rights reserved

Revised: 09-11-2000.