Revista de Imprensa
O "Open"
Por, António Carmona Santos
«... o british open ou simplesmente o open!»
Mais de 200 000 espectadores. Uma semana de intenso movimento. Três dias de treino, com um público fiel de muitos milhares de pessoas. Quatro dias de campeonato em que cerca de 150 jogadores disputam o maior título da modalidade, depois de se ter realizado uma pré-qualificação que envolveu mais de 1700 candidatos. Tudo sem um único problema, sem birras, nem más-criações!
Com que orgulho assistimos a este espectáculo! Não há muitos desportos que se possam gabar de ser praticados com tanta civilidade e, ao mesmo tempo, com tanta emoção.
É bom não esquecer que os concorrentes, além de competirem para mais prestigioso título de golfe mundial, disputam também milhares de libras. Além disso, o vencedor sabe que, só por sê-lo, passa a poder contar com chorudos contratos publicitários que o fazem entrar, de um momento para o outro, no grupo dos mais abastados. Mas, nem por isso deixam de se comportar irrepreensivelmente. O ambiente, o peso de cinco séculos de tradição, a vontade de todos aqueles que estão presentes, não lho consentem, apesar dos que assistem e participam em tão grandioso acontecimento serem os mesmos que tão mal se comportam quando se envolvem noutras manifestações desportivas.
Essa é a força do golfe! Ao vê-lo a ser praticado tão correctamente, convencemo-nos de que não há «homens maus». O que há, isso sim, são bons e maus sistemas. As pessoas comportam-se em função do exemplo. No ambiente de St. Andrews, com o «green» do buraco 18 praticamente a entrar pelos portões de uma das mais antigas universidades da Europa, com um público dirigido por polícias de boa cara e com toda a gente a sorrir e a aplaudir tudo e todos, não é possível, nem ao mais refinado energúmeno, fazer uma «fita».
Como se disse, séculos de desporto pelo desporto, de respeito pelas boas maneiras e de verdadeira compreensão do que é uma semana desportiva bem passada, são o melhor antídoto para atitudes negativas.
Quem assistir ao último «put» do «British Open», com milhares de pessoas a rodear o «green» do 18, num silêncio majestroso, apenas quebrado pela estrondosa ovação que festeja o momento em que o vencedor é conhecido, seja ele inglês ou espanhol, preto ou amarelo, não poderá deixar de se emocionar com tanta compostura!
Fica-nos sempre uma maravilhosa sensação de que não poderia acontecer doutra maneira. Porque será? A resposta só pode estar na própria essência do jogo do golfe, que gera em toda aquela multidão o desejo de ver competir com cortesia, perder com elegância e ganhar com modéstia. O «Open» faz com que essa multidão goste do jogo e da forma como é praticado, aliás, como, no fundo, deveria acontecer com todas as modalidades desportivas.
Todos deveriam fazer um esforço para, pelo menos uma vez na vida, assistirem ao «British Open». Para a esmagadora maioria dos praticantes que cumprem irrepreensivelmente os códigos do golfe é uma confirmação e uma ocasião única de verem os seus ideais postos em prática por uma imensa multidão.
Para os poucos que não entenderam ainda o espírito deste desporto, tentando parecer aquilo que não são, a esses, talvez o exemplo ali vivido os cure ou, pelo menos, envergonhe.
De qualquer maneira, que grande escola é, para todos, o «British Open» ou, simplesmente, o «Open»!
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