Revista de Imprensa

 

Então Boas Tacadas XXI - Jogo lento

Por, Fernando Nunes Pedro

 

Fernando Nunes PedroVolto ao tema depois de mais não sei quantas discussões. Sei que “depressa e bem há pouco quem...” mas as coisas raiam o insustentável.  

Não sei se os meus leitores sabem, mas um dos princípios fundamentais do golfe competitivo ou meramente social tem a ver com as seguintes situações:

“Jogas amanhã? Claro! E quem mais? E achas que posso convidar o Fulano? Óptimo e eu era capaz de convidar o Cicrano. Vamos a isso. Então amanhã. Ok.”  

E A QUE HORAS? MARCASTE A HORA? MARCA TU QUE EU NÃO TENHO TEMPO. MAS CEDO. OU TARDE? ENTÃO PRONTO. JOGAMOS ÀS 10H10. 

Neste último parágrafo está o busílis da questão. 

Em tudo na vida há um começo. Quando somos pequenos e as nossas mães nos dão de mamar ou o biberão, o leite sacia a fome. A fome acaba porque ficamos cheios. Mas tem um fim. Quando temos sono, adormecemos, mas em princípio, acordamos quando já dormimos o suficiente. Assim por diante, para não ser muito fastidioso. 

Há algumas semanas atrás, o meu grupo de amigos- vocês sabem de quem se trata- foi jogar a sua habitual partida anual, em Tróia. Foi um jogo memorável. Não me posso esquecer que um dos nossos companheiros que conduzia um dos buggies, conseguiu a proeza única de enterrar o veículo na areia do buraco 7 - o excelente par 5 – não uma, mas duas vezes. Uma vez do lado direito do fairway e outra do lado esquerdo. Tivemos até que nos socorremos da ajuda, muito bem vinda e providencial, de outro jogador que nos seguia no seu jogo solitário. Foi um fartote de gozo com o chauffeur que realmente nos fez aquecer e suar as estopimhas. Isto para significar que o jogo foi lento. 

Contudo, lembro-me de que fiz o meu drive no buraco #1 às 10h20 minutos. O meu parceiro de partida tomou um duche depois do jogo. Atravessamos o Sado e às 15h00 em ponto estávamos sentados no restaurante em Setúbal para comer pela primeira vez na minha vida “caras de robalo”, que por sinal estavam uma delícia.  

Portanto, desde que comecei a jogar até me sentar no restaurante, com uma viagem de barco pelo meio, decorreram 4h40 minutos. Escusado será dizer qual a idade média das nossa partidas. E que elas são muito disputadas e que “não há putts dados”. Está muita coisa em jogo, sobretudo o “enorme prazer em ganhar”. Quatro horas e quarenta minutos ou sejam 280 minutos. Não se percebe como se podem “gastar” 5, 6 e até 7 horas para jogar uma partida de golfe. Mas vamos à solução. 

Se tudo tem um início, um começo, o starting.time é o seu expoente no golfe. Toda a gente tem que saber exactamente a sua hora de saída. Quem chegar tarde tem penalidades que vão até à situação de não poder jogar a competição. É, provavelmente, a regra mais conhecida e mais eficiente que existe no golfe. 

Ora bem, se há uma hora para sair, porque não haver também uma hora para chegar? Se a hora de saída é às 9h30 porque não ser obrigado a entregar o cartão 4 hora e trinta minutos depois, às 2 da tarde? Eu sei que se é obrigado a entregar o cartão num prazo definido pelo Comité da prova depois de se acabar de jogar, sob pena de desqualificação. Mas esta exigência é particularmente agressiva quando comparada com o mal que pode causar. Se se tem um prazo para entregar o cartão depois de acabar o jogo porque não ter um tempo para acabar o jogo?  

O procedimento seguido em provas oficiais é o de 2 avisos ao jogador (es) faltoso(s) havendo uma penalização de duas pancadas ao terceiro aviso. Com mais avisos e mais penalidades, até ao convite para sair do campo e consequente desqualificação. (que nunca acontece porque toda a gente tem uma cunha na organização).  Mas este procedimento tem um contra em situações de campeonatos de clube ou de torneios comerciais. Na verdade, os campos não têm capacidade para terem diversos vigilantes para avisarem os faltosos. Ou se existem, na grande maioria das vezes não têm cultura golfistica suficiente para avisar com firmeza mas sem hostilidade. E tanto assim é que,  onde há vigilantes,  o jogo dura as tradicionais “pelo menos 5 horas”. 

As competições da Federação Portuguesa de Golfe são o cadinho de muita desta cultura de jogo lento. Há sempre não sei quantas hipóteses de tacos para se jogar, o vento sopra de todos os quadrantes, há quem tenha que atirar sempre um bocado de relva para ”ver” de que lado sopra ( esta foi-me asseverada por um jovem jogador), as “linhas “ de putts e o mimetismo dos profissionais são da mesma ordem de grandeza. Isto é, o jogo está a tornar-se “chato”. 

Solução à “Ovo de Colombo”: cada jogador, que é responsável pelo conhecimento da sua hora de saída, terá que ser responsável também, sob pena de desqualificação, de entregar o seu cartão até 4h30 minutos depois daquela. Poderá ser ainda menos, mas este tempo seria para começar.  

Pergunta usual: “ mas então, vou ser prejudicado porque vou num grupo que tem um jogador muito lento?” Mas, pergunto eu, quem é que tem que velar pelo cumprimento das regras por parte de cada competidor? Não é por acaso o marcador do cartão do seu fellow-competitor? Se estiver bem explicitado nas condições de jogo e no regulamanto de cada prova de que o tempo para entregar o cartão é de X , não vejo porque não possa ser aplicada esta sugestão. 

Jogar uma bola “in case” passaria a ser mais frequente para se evitar gastar muito tempo “com bola difícil de encontrar”; deixar passar o grupo de trás seria uma constante sempre que se justificasse; “estamos um pouco atrasados” seria uma das frases mais ouvidas nos campos de golfe; tudo isto com a vantagem de que haveria menos intervenções do foro psiquiátrico – mais saudável portanto-; com a certeza de que os resultados iriam melhorar; de que seria menos necessário recorrer a vigilantes ou “apressadores de jogo”; que haveria mais espaço para outros jogadores (os campos precisam de facturar) ; e que as viúvas do golfe teriam os seus maridos mais rapidamente em casa. (não tenho a certeza de que esta seja a principal razão, já que pode ter várias opções, uma mais felizes que outras...); mas as outras são todas boas razões, como sabemos. 

Portanto e para finalizar diria que para “uma boa hora de saída, há sempre uma boa hora de chegada”. 

Então, boas tacadas

Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt
20 Março 2006

 


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Revised: 31-05-2006 .