Revista de Imprensa

 

Então Boas Tacadas XXII - Turismo Residêncial e Golfe

Por, Fernando Nunes Pedro

 

Fernando Nunes PedroHá 75 campos de golfe em Portugal. Seis deles na Madeira e Açores.

Todos os a anos cerca de 275 mil estrangeiros visitam Portugal, especialmente o Algarve e a região da Grande Lisboa, exclusivamente para jogar golfe.  

Este movimento iniciou-se nos finais da década de 60 com o primeiro campo de golfe do Algarve, o Penina. Seguiram-se Vilamoura, Vale do Lobo e Quinta do Lago. Mas, ao fim de 40 anos ainda só há 31 campos de golfe naquele que já foi considerado por duas vezes nos últimos 6 anos, como o melhor destino de golfe do mundo. Quem atribuiu o prémio foram os Operadores turísticos, isto é, as agências de viagens de golfe que compram green-fees em todo o mundo e os vendem a toda a gente que joga golfe e que gosta de fazer viagens de golfe. Como as do ski, ou as dos monumentos, ou as religiosas, ou as gastronómicas ou as de sol e praia ou sexual. Mas estes operadores não receberam “apoios” especiais ou prebendas para votarem no Algarve. O voto é secreto. 

Nestes 40 anos desenvolveu-se um conjunto de indústrias ligadas ao golfe que merecem algumas reflexões. 

Em primeiro lugar todos estes campos de golfe são da total e livre iniciativa privada. O Estado não tomou qualquer medida ou sequer entusiasmou os privados a investirem em golfe. Estes compraram terrenos, fizeram os seus master-plans e reservaram uma parte dos seus terrenos, muitas vezes até aos 50% de área, para construírem um campo de  golfe, com o objectivo de tornar mais atraente todo o espaço.  

O que é certo é que estes campos que não nasceram para ser rentáveis, visto que eram o meio de se vender mais imobiliário a uma clientela esclarecida e com hábitos desportivos, com origem no Norte da Europa. Mas a partir do fim dos anos oitenta, começaram a ser altamente procurados. De tal modo que o Algarve se foi enchendo cada ano cada vez com mais turistas. Em 2006 já está garantido até ao fim de Maio um aumento superior a 10% no número de voltas de golfe em relação ao período homólogo do ano anterior. 2006 vai ter mais de 1 milhão de voltas só no Algarve. 

Mas porquê este movimento? Porque todos os anos aumenta o número de jogadores de golfe em todo o mundo. Porque apareceram jogadores excepcionais e carismáticos em que  Tiger Woods é o expoente máximo: é o desportista mais bem pago do mundo. Porque a oferta de campos de golfe não chega para a  procura porque as limitações à construção de novos campos é mais difícil por questões de natureza ambiental e de ordenamento de território. Porque há zonas em que o clima para a prática do golfe é excepcional. E é aqui que está a virtude do nosso país. E ainda porque as novas formas de tecnologia e comunicação permitem trabalhar numa zona excêntrica ao seu lugar de trabalho ou de negócio. Se a tudo isto acrescermos o facto de se viver mais e em melhor forma física estamos a ter mais umas dezenas de milhões de pessoas que vão jogar golfe nas próximas décadas. E ainda não estou a falar nos chineses. 

Há obviamente lugares muito melhores do que Portugal para o turismo de sol e praia, países com uma história que se reflecte em cidades monumentais, lugares onde a cultura tem expoentes aos quais só em situações muito pontuais nos podemos comparar. Podemos ir para a praia nas Caraíbas, ou Brasil ou as Seicheles,  visitar o Egipto ou Peru pelas culturas de outros povos, visitar Paris ou Roma, ou Florença ou Veneza, ou S. Petersburgo, ou Nova Iorque pelos museus, ir às compras em Londres, Madrid ou Tóquio. Ir a Cuba, Tailândia para turismo multifuncional, ou subir os Himalaias ou fazer o Saara de Jeep, ir à Argentina para ver os glaciares. Mas para jogar golfe não há melhor que Portugal. Com o Algarve em primeiríssimo lugar seguido de Lisboa e Madeira com os Açores a crescer. Não são os portugueses que o dizem. É muito mais simples, são os estrangeiros que cá vêm. Assim como os melómanos vão a Salzburgo, os suecos, ingleses, irlandeses, americanos, japoneses, vêm a Portugal para jogar golfe. 

Aqui entram em jogo todas as indústrias e serviços, alavancados pelo golfe. Hotelaria, restauração, rent-a-car, agências de viagens, marketing e publicidade, eventos, discotecas, publicações, advocacia, máquinas e equipamento de golfe, relvas, empresas de adubos e fertilizantes, fotografia, topografia, etc. 

Segue-se a indústria de construção civil porque exactamente da mesma forma que o Vinho do Porto foi feito pelos ingleses e muitos britânicos vieram para Portugal nos finais do séc. XIX  com o objectivo de se dedicarem à vitivinicultura, e ainda bem, porque nos deram o Vinho do Porto, e por aqui ficaram a viver,  também este universo de golfistas das mais diversas origens  vem até nós para jogar golfe e depois de três ou quatro visitas acaba por ficar encantado com as nossa maravilhas e construir aqui a sua casa de férias e muitas vezes definitivas. 

Tudo isto vale cerca de 1,8 mil milhões de Euros todos os anos. 1,24% do PIB português e 14% do PIB turístico. 

É por isso que não se percebe porque há tanta gente contra o golfe. Dá emprego directo e indirecto a cerca de 100 mil pessoas. Não é um turismo de massas. Mas é um turismo de muita massa. Podemos dar-nos ao luxo de inclusive com um ordenamento do território bem feito, com expertize no sector, localizar onde se podem construir os 150 campos de golfe que precisamos construir. Fora das grandes cidades, perto do litoral, ou perto de grandes lagos, onde o clima seja ameno, onde o transporte seja fácil para ir e voltar.  

Para o fazer não precisamos de importar tecnologia como para construir automóveis na Autoeuropa, ou máquinas para os têxteis ou calçado, ou matérias primas para com uma pequena mais-valia de trabalho mal pago tentar concorrer neste mundo globalizado.  

A matéria prima já cá está: é o Sol que dentro de 10 mil anos ainda deve estar por cá. A construção civil existe e tem empresas portuguesas de grande prestígio neste sector.  Espaço não nos falta e, de resto, 150 campos de golfe com um empreendimento urbanístico na envolvente ocupa 100 hectares por cada um e portanto tudo junto significará 15 mil hectares. Em lugares diferentes. Criando mais 200 mil postos de trabalho.  

Ainda temos outras matérias primas essenciais para o sucesso: uma democracia consolidada e uma segurança indesmentível. Afinal somos pobres e não suscitamos grandes paixões. Somos pequenos e essa é uma grande vantagem. Como o antigo anúncio da TAP dizia: “ small is beautiful”. 

E que mal terá que o golfe seja de elite? Não é. Mas se fosse? Não é preferível ter um turismo assente na qualidade? Ou será melhor termos parques de campismo?  

Para os meus amigos golfistas, deixo aqui uma dica de que me servi há muitos anos atrás quando me dediquei profissionalmente à “coisa do golfe”: ainda está tudo por fazer.  

E sempre a dar muitas e, boas tacadas
Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabp.pt

29 Maio 2006

 


Opções de Retorno
- Revista de Imprensa - Menu -
Indice Geral


Portugalgolf
Tel: 309 906 452 Fax: 309 906 452
E-Mail : portugalgolf@netcabo.pt
Copyright © 1996/2008. All rights reserved

Revised: 31-05-2006 .