Revista de Imprensa

 

Então Boas Tacadas XXIV - Viagem Utopial

Por, Fernando Nunes Pedro

 

Fernando Nunes PedroO avião acerca-se da pista nº 9 do Aeroporto Internacional de Utopial. Um AirBus com 1500 pessoas a bordo vem directamente de Beijing depois de ter feito uma aterragem técnica em Bombaim. O frenesim dentro da aeronave é o normal de uma primeira viagem à Europa.  

(O Aeroporto de Utopial transformara-se rapidamente na grande plataforma de acesso ao continente europeu depois do estrangulamento que se verificava na Europa central onde uma nova política de transportes estava a dar os seus primeiros passos após algumas décadas de hesitações. Portugal antecipara-se e conseguira convencer as autoridades económicas europeias de que um novo modelo de transportes integrados - aéreos, ferroviários e rodoviários - passaria sempre pela costa oeste da Europa. O porto de Sines passara a ser o centro logístico de todo o Atlântico após o extraordinário desenvolvimento económico que a China, Índia e Brasil tinham experimentado nos primeiros trinta anos do século XXI. Também a África Ocidental sofrera avanços surpreendentes sobretudo para os niilistas que anteviam uma hecatombe social no continente perdido. Afinal, a cura da Sida e a erradicação de uma série de doenças endémicas tornaram muitas partes do continente africano num grande produtor agrícola com o apoio massivo dos chineses. A riqueza petrolífera e as matérias-primas minerais foram o motor de um desenvolvimento tido como impossível mas para o qual contribuiu a democracia que permitiu a alavancagem de todas as acções de carácter social e político. O sucesso da China e da Índia transformara o mundo numa oligarquia de regiões a que se juntava a Rússia já integrada na Europa e que formava assim um extraordinário mercado, os Estados Unidos, o Brasil e África. Assistia-se a um desenvolvimento extraordinário a nível mundial fruto da utilização de novas formas de energia entre as quais a do hidrogénio e a ainda a tecnologia da supercondutividade que reduziu dramaticamente os consumos de transporte de energia) 

O Airbus sem piloto aterrou suavemente em Utopial e os seus ocupantes foram transportados – a maior parte – através de um serviço de monorail para a estação de Maglev a nova geração de comboios que circulava por toda a Europa a velocidades médias de 750 kms/h.  

(A viagem de Utopial a Paris fazia-se, incluindo paragens de ½  hora em Madrid e Bordéus, em cerca de 4 horas, numa almofada electromagnética sem atritos.  O serviço de transportes cruzava toda a Europa que fora a isso obrigada tal o entusiasmo com que as novas hordas de turistas – mais de 1.100 milhões todos os anos – a demandavam à procura de cultura no Velho Continente e, em muitos casos, buscando também climas mais amenos, como Portugal. O Maglev, era o transporte mais procurado entre as grandes cidades europeias, destronando as low-costs e transformando o avião no transporte para as  deslocações intercontinentais. O avião passou a ser cada vez maior e novas pesquisas científicas permitiram velocidades supersónicas, com viagens mais cómodas e cada vez mais baratas. As companhias aéreas estavam a ter resultados e eram ao mesmo tempo accionistas do Maglev. Finalmente, a velocidade de circulação das pessoas estava a aproximar-se da da informação que, nas últimas décadas do século XX e início do século. XXI, foi estonteante com o aparecimento do fax, primeiro, depois o correio electrónico, telemóvel, Internet. As populações passaram a ser transportadas mais depressa, ou simplesmente, não se deslocavam. Era o caso de milhões pessoas que podiam ficar em casa a trabalhar através de circuitos de intranet com as suas empresas, com toda a eficiência e elevado nível de eficácia. Maiores lucros eram gerados e os empresários já não precisavam de estar todo o tempo em “cima” dos seus negócios. Muito mais tempo era dedicado à cultura, à viagem, ao estudo, ao desporto. Tudo andava mais depressa mas paradoxalmente cada vez mais lento. A humanidade estava a reentrar, depois da queda de Atenas, há mais de dois mil anos, numa fase de prosperidade e de grande elevação.) 

Tsen Yung vinha da China, com três dos seus melhores amigos, jogar golfe na Europa. Começariam por Inglaterra, visitando Londres, uma breve deslocação a St. Andrews – a Meca do golfe -  e depois Paris, Roma e Madrid. Finalmente Lisboa onde o clima dava garantias de boas partidas. Chegados de Madrid, na estação de Maglev do Utopial, em apenas ¾ de hora de viagem com uma pequena paragem em Badajoz, alugaram uma limousine a hidrogénio e foram até à costa Oeste visitar Óbidos.

Jantaram em Lisboa, ouviram música numa discoteca famosa com sons muito estranhos para eles e, no dia seguinte, jogaram golfe num magnífico campo dos arredores da capital. O Algarve estava no programa decidido ainda em Beijing e reservaram três dias de golfe nalguns dos melhores dos 138 campos de golfe que se lhes ofereciam. Jantaram em restaurantes chineses e europeus, alguns destes premiados com estrelas do guia Michelin. O golfe era o desporto favorito de Tsen e seus amigos; no seu país apesar de ter já 7.500 campos havia mais de 15 milhões de jogadores que não conseguiam jogar. O seu ídolo era por acaso um português, jovem de 18 anos de seu nome Senun Ordep, cuja família era originária do Sri Lanka o antigo Ceilão ou a Tapobrana dos latinos cantada por Camões e tomada por D. Lourenço de Almeida em 1505. O jovem Senun em apenas um ano e ainda como amador já batera todos os recordes dos imortais do golfe com muito menos idade. 

No dia de folga do golfe, passearam pelo Algarve e ficaram impressionados com a quantidade e qualidade de oferta de casas em resorts com magníficas vistas de montanha e de mar. Visitaram um deles e decidiram comprar um apartamento com vista para um lago e de um belíssimo green. A compra foi feita com o Banco chinês de que eram clientes e o produto incluía a possibilidade de trocarem uma estada anual em mais 452 resorts espalhados pelo mundo. A casa tinha um condomínio e uma empresa gestora que garantia cerca de 75% das suas despesas anuais incluindo a amortização do capital investido. A sala de operações e negócios do resort dava-lhes a possibilidade de conversarem com os seus familiares e com os seus colegas de empresa. 

No regresso a Utopial resolveram passar em Reguengos na região alentejana do Alqueva onde visitaram uma das muitas adegas de vinhos, considerados dos mais valiosos e de maior qualidade de todo o mundo. Tiveram ainda tempo para visitar um parque temático alusivo à História de Portugal especificamente aos descobrimentos e conquista dos mares do oriente. Tsen Yung soubera que Portugal era uma nação de dez séculos - fazia esse ano exactamente 900 anos – com as mais antigas fronteiras de toda a Europa. Portugal tinha mais de 16 milhões de habitantes e devia o seu esplendor ao número e diversidade social dos seus imigrantes, fruto de uma política inteligente de aceitação e integração de gente de muitos povos,  e representava, a nível mundial um sonho quase intangível,  por se ter transformado numa nação multiétnica, multicultural, simples, com uma língua de muitos sotaques dos mais redondos aos mais fechados, com origens as mais diversas, onde havia trabalho e onde finalmente era possível ser-se lento porque os outros podiam ser rápidos como que se de um buraco negro se tratasse capaz de atrair toda a luz. Era um destino de poeta. 

No retorno a casa, a Beijing,  a partir do Utopial, sobrevoaram Sines onde uma série de portos de abrigo albergavam dezenas de navios de todos os portes e diversas funcionalidades. O porto estava cercado por uma miríade de casas ladeadas por largas avenidas que mergulhavam, vistas de cima, num paisagismo esplendoroso. Ao longe, entrecortado no horizonte, milhares de hélices davam um toque estranho na paisagem. Era a energia eólica que com a energia das marés ajudara Portugal a sair do marasmo dos últimos cem anos.   

Tsen Yung gravara no seu “sweetdisc” todas as tacadas que dera a jogar golfe com os seus amigos, utilizando uma câmara digital que acoplara no buggy. Podia ver as suas melhores tacadas, “deletar” as que não gostava e fixar-se nos melhores swings.  

(Os jogos de golfe tinham entretanto sofrido uma enorme transformação. As bolas atingiam as mesmas distâncias de décadas antes mas incorporavam um chip que registava os efeitos sofridos - uma bola que quase falava, uma inforbola - que mudava de cor ao fim de 4 horas de jogo, reduzindo de imediato a sua elasticidade.  O chip era integrado na bola antes do jogo começar através de um laser e fora uma empresa portuguesa que descobrira o processo que revolucionou o golfe a nível mundial. Jogar em menos de 4 horas era obrigatório e assim muitos milhões de famílias tiveram a oportunidade de começar a jogar golfe porque mais gente jogava e mais barato se tornara a sua prática. Os campos de golfe deixaram de ser um custo para a maior parte dos resorts do fim do século XX e passaram a ser altamente rentáveis.  

Os tacos também sofreram uma extraordinária evolução sobretudo em relação ao seu peso que originou uma  velocidade de execução do movimento muito superior à de tempos atrás. Era assim possível a jogadores de bastante idade - uma tendência que a genética tornara viável -  terem capacidade de jogar a um bom nível.  

Os campos evoluíram de forma diferente mas ainda mais eficiente. Com um paisagismo pouco consumidor de água nos arredores dos campos e com a aplicação nos fairways de um produto que deixava respirar os solos, cobrindo-os de uma relva artificial, que se auto sustentava através de moléculas autoregenadoras, sem necessidade de rega, com condições de drenagem da água das chuvas ideal e que proporcionava uma superfície de jogo sempre a 100%. As equipas de manutenção reduziram-se a mínimos impensáveis poucos anos antes, com custos risíveis.)  

Tsen Yung pensava no seu swing e ficava atónito quando via jogar a jovem irmã de Senun, a belíssima  Edlitam que, como o seu irmão, batia todos os recordes com resultados sistemáticos de menos de 60 pancadas. Tsen iria voltar daí a alguns meses.  

Tomou o seu “soma” huxleyano e adormeceu.

Então, boas tacadas
Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt

13 de Novembro 2006

 


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