Revista de Imprensa

 

Então Boas Tacadas XXXI - O golfe e a terceira idade

Por, Fernando Nunes Pedro

 

Depois de algum tempo de silêncio eis me de novo em comunicação com os meus leitores. 

Até que enfim!. Pensava que nunca mais cá chegava. As vezes que pensei: “ que bom quando deixar de trabalhar e puder jogar golfe todos os dias!”. Finalmente vou baixar de handicap e voltar a ser um “single figure”.   

Pois é! Afinal  não tem sido assim. Os meus amigos bem me dizem para levar uma nova vida, para me adaptar a novos ritmos e aproveitar a situação para jogar mais vezes golfe por semana. 

Estou contudo naquela fase em que tenho complexos de não trabalhar num regime de “nine to five” o que, no caso português, um pouco estupidamente,  é mais “ten to twenty”. Mas complexos? Porque raio é que tenho complexos? São hábitos. O facto de num dia de semana não usar fato e gravata e andar na rua ainda com este meu ar de “jovem adulto”, como se achava o Sartre – e eu também – leva-me a sentir os “olhares” dos que trabalham: “lá vai mais um desempregado”.  

E é verdade. Vou contar-vos a minha ida ao Centro de Emprego em Benfica. No dia em que lá fui, a 8 de Janeiro deste ano, a menina muito simpática que me atendeu e que falava um excelente português, colocou no impresso respeitante à minha inscrição um número 21 mil e qualquer coisa. Perguntei-lhe o que queria dizer aquele número ao que ela respondeu : “é o número de inscrição em todos os Centro de Emprego do país, desde o princípio do ano”. “ E isso é muito ou é pouco?” perguntei. Como já repararam, até ao dia 8 de Janeiro só houve 5 dias úteis. “ Bem, eu acho que é muito porque no ano passado a média mensal foi de cerca de 10 mil inscrições”. Claro que fiz as minhas extrapolações e dava para aí umas cento e tal mil inscrições. Reparem que eu tenho o cuidado em não dizer “desempregados”. “ Então, no mínimo teremos mais ou menos 50 mil por mês, não é verdade?” perguntei. “Sim, sim, sempre para mais”. 

É claro que não posso ir jogar golfe! Nem baixar de handicap. Tenho que arranjar uma maneira de aplicar aquilo que sei fazer e arranjar um emprego para mim e para mais meia dúzia de pessoas. Só assim estou a contribuir para minimizar os malefícios da globalização e a falta crónica de empreendedorismo que existe em Portugal.  

Confesso que já não sei se estou a falar a sério ou a brincar. Mas nós os golfistas temos sempre uma acção empreendedora de cada vez que jogamos golfe. Sem um objectivo e uma estratégia ninguém joga uma partida. E precisamos de ter investido em educação, em lições extremamente penosas, conhecer as regras do mercado com grande profundidade sobretudo as de etiqueta,  muita prática, usar as novas tecnologias em bolas e tacos, dispor de algum fundo de maneio para os primeiros três anos em que só se gasta e em que os amigos ganham todas as partidas ou fazemos má figura, de preferência arranjar um “banco” de amigos que invista em nós e no nosso “goodwill”, e,  depois,  ir para o campo – para o mercado – usar de toda a capacidade de inovação (que é o que está a dar)  e, sem matar o inimigo, tentar linchar a concorrência e  contar sempre com alguns imprevistos tais como “shanks”( faltas de pagamento) ou “tops” com impostos cada vez mais altos.  

Por isso meus caros companheiros, não é tão cedo que me apanham a jogar a uma quarta-feira. A menos que vá de “casaco e gravata” como se jogava há três séculos atrás. Se calhar era uma maneira de reduzirmos a taxa de 40 e tal por cento de jogadores seniores que há em Portugal!!! 

Então, boas tacadas.

Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt

31 de Março de 2008

 


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