Revista de Imprensa

 

Então Boas Tacadas XXXV - A mulher, o golfe e os "sócios de bagageira"

Por, Fernando Nunes Pedro

 

O golfe nacional tem um enorme défice de jogadores nacionais. O número exacto é elástico e, como tal, estende-se e encolhe conforme as necessidades, os lugares e as ocasiões em que é mencionado.  O que é certo é que os campos de golfe nacionais – 77 campos – precisariam de 1.000 jogadores em cada um, para serem viáveis financeiramente, quiçá economicamente.  

Mas Portugal, vive há muitos séculos de subsídios. De todo o tipo. Das especiarias do Índico, do ouro do Brasil, das riquezas das colónias ultramarinas, das transferências dos emigrantes – especialmente dos que emigravam para a Europa porque os de “longa distância” tarde ou nunca voltam ao “jardim”, e, finalmente, viveremos uns bons 18 anos, de 1995 a 2013, dos subsídios europeus. 

O golfe também não escapa a esta tendência para o subsídio. Assim , o golfe nacional é subsidiado anualmente com a visita de mais de 300 mil jogadores estrangeiros que fazem 1,2 milhões de voltas de golfe de 18 buracos. Os portugueses, todos eles, independentemente da elasticidade do número, fazem à volta de 300 mil voltas. O que quer dizer que, se os turistas estrangeiros faltarem, ou tiverem uma redução significativa, por uma qualquer razão, por mais singela que seja, do tipo “gripe das aves”, “aumento desmesurado da energia” , “ tarifas aéreas”, “preço dos combustíveis”, acontecimentos até há poucos meses apenas no domínio do hipotético, os proprietários de campos de golfe vão ter dificuldades acrescidas de carácter excepcional.  

Para grandes males, grandes remédios.  

A solução está em acabar com a categoria de “sócios de golfe de bagageira”. Quais as razões da sua existência? Por que razões há tantos jogadores que chegam aos clubes, abrem as bagageiras dos carros, calçam os sapatos de golfe, tiram o saco com os tacos, vão jogar e depois fazem o ritual de novo quando acabam de jogar? Como é que um jogador de golfe que se preza prescinde de uma das coisas mais agradáveis da modalidade: o chuveiro e o bar do 19 a contar as peripécias do dia?  

As razões são óbvias. Por causa da “mulher”. Das mulheres, que ficam em casa à espera dos maridos. Que ficam a rogar pragas por serem acordadas pela manhã, ao sentirem os maridos  saírem sorrateiramente dos leitos conjugais, com os sapatos nas mãos para não as acordarem. “ A que horas chegas?”. “Se não vens a tempo do almoço, não me encontras aqui!!!”. “Vens buscar os miúdos?”. “ Quando é que te dás conta que tens uma família?”.  

É evidente que não há resultado que resista a tanta pressão. E assim se perdem milhares de jogadores, que mais cedo ou mais tarde sucumbem a essa carga moral que lhe é imposta pela mulher, abandonam a modalidade e se dedicam ao “pijama”, ou à play station dos filhos ou a uma “corridita higiénica muitas vezes mortal, à volta do quarteirão”.  

A solução do golfe nacional passa pela mulher. As mulheres, numa sociedade cada vez mais “matriarcal” , organizam, sugerem, comandam - suave ou agressivamente -, os tempos livres dos maridos e dos filhos, de todas as famílias. Assim, a solução do golfe nacional passa por , “rapidamente e em força”,  trazer a mulher para os campos de golfe. Criar uma  “comissão de recepção “ da mulher em todos os clubes, estabelecer programas com aulas de golfe, organizar as “terça-feiras” das mulheres, angariar patrocinadores exclusivos para as mulheres, com um campeonato de nível nacional – não devem faltar  grandes empresas interessadas ( bancos, empresas de telemóveis, de     “fashion” etc.). Um baby-sitting em cada clube é essencial para que a mulher possa jogar tranquilamente a sua volta de golfe. Daí até à família toda a jogar é um ápice. Em breve serão milhares os jogadores. Até que a felicidade de jogar num campo vazio, acabará. 

Será aconselhável que cada clube, dentro desta estratégia do tipo “ o golfe, o sexo e... o campo”,  faça um preço especial para a mulher. 

Outra solução é acabar com as bagageiras. 

Então, boas tacadas...se possível bem acompanhados.

Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt

7 de Julho de 2008

 


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