Revista de Imprensa

 

Então Boas Tacadas VII I- O cancro do Golfe - o jogo-lento

Por, Fernando Nunes Pedro

 

Fernando Nunes PedroO tema em que me proponho hoje mergulhar é um dos principais problemas do golfe mundial e representa, por si só, o maior óbice ao crescimento do jogo, e, consequentemente, mantendo-o naquele limbo odioso , não merecido,  de ser considerado um jogo elitista. Entenda-se, para ricos. O que, sem ser verdade, também não é falso. Como adiante se tenta explicar. 

Importa mais debater as razões para a existência do jogo-lento do que as formas de o evitar. Importa mais o impacto que o jogo-lento tem na indústria, nos preços dos green-fees, no custo das quotas, e na sanidade mental tanto do jogador lento quanto na do jogador lesto, do que as dicas que todos nós sabemos mas que ninguém aplica porque não se compreende por que razão há tanta premência em jogar-se rápido. 

O tema tem sido debatido em muitos países e nos mais diversos meios e, para aqueles que viajam na internet, surpreendam-se com a quantidade de sites que abordam o “slow play”. Faça uma pesquisa.  

Há quatro razões principais para o jogo-lento:

a) A televisão e o exibicionismo
b) O desenho dos campos
c)   A indústria e o marketing do golfe.
d)   A falta de consideração por si e pelos outros

A televisão exerce sobre o ser humano uma tremenda influência e, sendo  a qualidade das transmissões desportivas, de qualquer modalidade, cada vez melhor, tanto maior é a receptividade do espectador às performances dos jogadores mais credenciados, cheios de “sport-appeal”. 

É portanto natural que o nosso “herói” lá em casa, ao ver o Tiger, ou o Phil ,ou o Els, a mironarem a “linha” da bola, de trás para a frente, de lá para cá, fazendo “pala” com as mãos para ver linhas ainda mais esquisitas, pedindo ajuda ao “caddie”, saltando de um lado para o outro da linha da bola como faz o Fred Couples enquanto se espreguiça com as mãos no ar e mostra- aos milhões de heróis- a marca das polos Ashworth que por acaso, só por acaso, são propriedade dele- enfim, depois desses ademanes e voltaretas, o “pro” faz os seus “swings” de ensaio- mínimo de três- dá a pancada e, claro, mete a bola no buraco para um “birdie” glorioso. É exactamente neste “claro” da linha anterior que reside o problema. Na verdade a televisão só nos mostra os “putts” que entram ou aqueles que fizeram “gravata”. Na verdade, o que acontece é que eles , os “pros”, falham tantos “putts” como nós e de todas as distâncias. Mas sobretudo eles falham os putts compridos praticamente na mesma proporção do que um amador. E acontece o mesmo nos “shots” compridos com “eagles”, “albatrozes” e “hole-in-one”. Só se vêem aqueles que a TV registou. E são esses que provocam o jogo-lento. 

É evidente que o nosso “herói” vai tentar emular o seu jogador favorito. E faz aquilo que viu na TV. Demorando ainda mais, porque se acha nesse direito, já que pagou para estar ali- tem o bilhete de green-fee no bolso-. É este tipo de emulação, associado a tiques exibicionistas, que leva muitos jogadores amadores a demorarem tanto tempo a jogar as suas pancadas e a contribuirem para o jogo-lento.  

Abaixo a Televisão!!! 

Em segundo lugar temos os desenhos dos campos de golfe. 

A tendência a que se assiste nas últimas décadas é para a construção de campos mais compridos   e não são mais do que o reflexo dos nomes associados às principais companhias de arquitectura de golfe: grandes jogadores de golfe conhecidos pelas enormes distâncias a que atiram as bolas. Assim e ao saltar da pena, temos o Jack Nicklaus, Arnold Palmer, Greg Norman, Colin Montgomerie, Nick Faldo, Graham Marsh, Gary Player, todos eles jogadores excepcionais e reconhecidos pelo longo alcance das suas pancadas. 

Outros grandes projectistas, mesmo que não tenham sido grandes jogadores,  acabam por desenvolver projectos com as mesmas tendências. Estas seguem naturalmente os desejos dos promotores imobiliários que ficam com mais lotes de terreno com frente para o golfe. 

E o que é que isto tem a ver com o jogo-lento? Tem tudo. Campos mais compridos originam pancadas mais erráticas, slices e hooks mais pronunciados e a natural perda de bolas nos matos, lagos e piscinas mais insuspeitos. 

Vivam os arquitectos que privilegiam a certeza da pancada e não a força obstrusa!!! 

A indústria de golfe faz a cama onde se há-de deitar. Ela tenta satisfazer os anseios de todos. Dos jogadores que querem mandar as bolas mais longe; dos promotores porque têm mais espaço  em “A position”para vender; dos arquitectos e construtores porque movimentam mais terras e isso permite maiores encaixes. A indústria de golfe produz bolas espectaculares que voam cada vez mais longe- infelizmente como se pode comprovar não mais direitas-. Cada dia aparecem no mercado novos tacos com varetas de grafite, ou de boro, ou de tungsténio, com felxibilidades para todos os gostos e potências. As cabeças das madeiras têm um design que lhes permite passar na zona de impacto com a bola com menor resistência ao ar e até têm algumas a possibilidade de fazer o “rebound” das bolas – crê-se que o R&A e o USGA não estão a proibir, mas a colocar um limite na capacidade de “rebound” e portanto também a colaborar com o mercado-. É evidente que bolas mais longe significam mais bolas perdidas e mais tempo de procura e ...jogo-lento.

Mas se o objectivo da indústria é vender mais, como é que a tecnologia pode ser o seu“hara kiri”? Porque origina o jogo-lento que afasta dos campos todos os anos mais de 35% das pessoas que começam a jogar ou se mostraram interessadas pelo golfe ( report da National Golf Foundation ). E porque deixa desentusiasmada muita gente que joga e tem pena de gastar tempo num campo de golfe.  

A indústria com a sua sede de ganhar mais e apanhar incautos no seu marketing devastador acaba por causar mais danos a  si própria e ao crescimento natural do número de jogadores. Também isso se pode comprovar pelos últimos dados de jogadores em todo o mundo. Apesar do inegável  interesse que o golfe continua a suscitar, o saldo de jogadores é negativo já há cinco anos.  

E o marketing das indústrias de tacos de golfe vê-se com grande realce nas capas das “madeiras” que protegem as suas cabeças de metal. Se contarmos as vezes que quatro jogadores usam as suas madeiras, tantos os drives quanto as madeiras de campo e o tempo que cada um gasta para recolocar a capa na cabeça, facilmente se constataria que se perdem pelo menos dez minutos. Sim dez minutos. 

Portanto, abaixo as capas das madeiras!!! Ah! E já agora, acabem também com as capas dos “putters” que se encontram perdidas em todos os campos e que ainda demoram mais o tempo de jogo. ( Coitado, perdeu a capa do “putter”- é ridículo-). 

Finalmente a falta de consideração por nós próprios e pelos nossos “fellow-competitors”. Por nós porque mais cedo ou mais tarde se vai parar a um manicómio, tal é o tempo que se demora a jogar. Se calhar está-se a treinar para lá ir parar. Quiçá? E obviamente sai mais caro com as idas ao psicanalista.  

Além do mais está provado que a capacidade de concentração de um jogador não vai além das 4 horas de jogo. Claro que ao fim de 5 horas de jogo toda a gente começa a jogar mal, a perder mais bolas, a demorar mais tempo ainda eo que é comum é ouvir-se nos vários grupos uma voz que diz “ Mas o que é que eu estou aqui a fazer?”. 

A falta de consideração pelos outros nota-se porque ninguém está ver a bola de ninguém. Falhe-se ou acerte-se o  drive é certo que o jogador fica, ou a resmungar ou envaidecido, mas sempre incapaz de olhar para a bola dos companheiros que se perdeu “naquele mato horroroso”. E depois lá andam eles de “rabo para o ar” à procura de bolas. Confesso que não vejo nisto nenhuma réstea de elitismo.  

Portanto, o que se aconselha é que se considerem todos uns aos outros, não apenas nos cumprimentos finais, mas olhando com cuidado para a bola de cada parceiro. 

E, para rematar estas tacadas, apenas algumas dicas: as minhas.

  • Tire as capas das madeiras antes de começar a jogar.

  • Marque o cartão apenas quando chegar ao próximo tee.

  • Olhem todos para as bolas uns dos outros

  • Se jogarem de buggy, retirem e coloquem os tacos na mesma acção. Isto é, depois de uma pancada, entrem no buggy e só o recoloquem no saco no acto de escolher o taco para a próxima pancada.

Então, boas tacadas. Com menos meia-hora de jogo. Pelo menos

Fernando Nunes Pedro
fnp-golfe@netcabo.pt

6 Setembro 2004

 


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