Revista de Imprensa

 

Portugal Já Atrai 600 Mil Golfistas

Por, Ana Saianda, Catarina Vaz Guerreiro e Graça Teófilo

O Golfe começa a assumir-se como um dos principais negócios do turismo português. Além de diminuir a sozonalidade, atrai pessoas que, diz-se gastam quatro vezes mais que o turista comun.
No final do mês de Abril, Portugal conhece o seu ponto mais alto na realização de eventos ligados ao golfe. Com efeito, de Março a Junho, os cerca de 40 campos existentes em Portugal são percorridos por milhares de golfistas amadores e profissionais, principalmente estrangeiros, que contribuem fortemente para diminuir a sazonalidade do turismo em Portugal. Um período que só volta a repetir-se nos meses de Outubro e Novembro. Porém, e ao certo, ainda ninguém conseguiu quantificar o volume de negócios produzido pela modalidade.

Nos Estados Unidos, o golfe movimenta cerca de 6 mil milhões de dólares (cerca de 1050 milhões de contos) e cria aproximadamente 270 mil postos de trabalho .Já para a realidade portuguesa, Carmona Santos, da TopGolfe, diz que «não há dados concretos, embora se possa estimar que o mercado da importação seja de cerca de 500 mil voltas anuais, só no Algarve».E, acrescenta este gestor, «estas voltas representam um volume, entre efeitos directos e indirectos, de mais de 40 milhões de contos». Além disso, é frequente afirmar-se nos meios hoteleiros que o jogador estrangeiro gasta em Portugal cerca de quatro vezes mais do que qualquer outro turista. Principalmente os alemães. Ainda assim, e quantitativamente, os britânicos são os que mais se deslocam a Portugal, embora os mercados germânico e escandinavo registem um crescimento substancial.

O mesmo especialista na organização de eventos de golfe refere ainda que a modalidade movimenta um número de turistas superior a muitos outros sectores, além de gerar outros proventos relacionados com o marketing desportivo. «Posso dizer que o Open de Portugal tem neste momento projectadas 220 horas de exposição no mundo e mais de 120 horas televisivas em directo». Isto corresponde a um aliciamento proporcional de público/audiência, já que «um telespectador que assista a um torneio de golfe pela televisão, e que aprecie a paisagem portuguesa, ficará por certo interessado em bater umas bolas nesse campo».

Construir um campo de golfe implica um investimento avultado, que varia consoante o tipo de terreno e pode rondar os 500 mil contos. A manutenção, essa, pode custar entre 80 mil e 120 mil contos/ano, enquanto os serviços adicionais poderão rondar os mil contos/mês. Ainda falando de números, refira-se que o custo de um Open do nível do de Portugal envolve um investimento de 200 mil contos em gastos e cerca de 90 mil contos de prize-money. O prize-money é conseguido através de patrocínios e pode variar entre 5 mil e dezenas de milhar de contos. Num torneio de curta duração (um só dia, por exemplo) os patrocínios repartem-se por empresas de menor dimensão, enquanto empresas como a Andersen Consulting, a BMW ou a Audi «alinham» no patrocínio de um circuito inteiro de torneios de golfe. Neste momento, a Aliança UAP patrocina um torneio de cinco dias.

O Estado também contribui com determinado montante, em relação ao qual Carmona Santos diz: «Nós assumimos a contribuição do Estado como patrocínio, porque se o golfe é um meio de promoção ajuda alguém a vender qualquer coisa, neste caso turismo. Além de que permite que as empresas entrem numa fase de profissionalismo e não estejam dependentes de subsídios, que por vezes recebem sem justificação.»

A ORIGEM ESCOCESA

Nascido na Escócia, há notícia de que o golfe já se jogava em meados do século XV, mas não nos moldes actuais. Embora então se denominasse goff ou gowff, o certo é que a designação actual da modalidade deriva do alemão kolbe, que significa taco. Com o objectivo inicial de projectar a bola o mais longe possível, o jogo desenvolveu-se no sentido de o praticante alcançar, com o menor número de pancadas, um determinado percurso. Uma outra maneira de praticar o golfe consistia num teste de perícia em que o objectivo era derrubar uma marca com a bola. Todavia, foi o jogo nascido na Escócia que forneceu as bases do golfe actual, em que se pretende aliar a capacidade de projecção da bola a grande distância com a perícia de a introduzir num buraco, e em que os concorrentes fazem o seu concurso sem qualquer tipo de interferência dos adversários.

Em meados do século XVIII, o objectivo do jogo ainda era projectar a bola o mais longe possível. Surgiram nesta época os primeiros campos de golfe, como os localizados em Leith, em que o maior tinha apenas cinco buracos e media cerca de 500 metros de comprimento.

Ao contrário do que acontece hoje, os campos não eram tratados, pelo que aos jogadores se deparavam obstáculos difíceis de ultrapassar, principalmente nas zonas que circundavam os buracos (os greens), onde a densidade da vegetação só era controlada pelo apetite dos coelhos. Quanto a clubes, este surgem com a criação de torneios anuais premiados. De entre os primeiros, registam-se o Honourable Company of Edinburgh Golfers, fundado em 1744; o Royal and Ancient Golf Club St. Andrews, em 1754; o Royal Blackheath Golf Club, em 1766; e o Royal Musselburgh Golf Club, em 1774. Com o decorrer dos anos, estes clubes foram assumindo a responsabilidade de zelar pela modalidade.

Com o berço na Escócia, seriam os seus emigrantes a difundir a modalidade, tanto no continente europeu como em paragens mais longínquas da América e da Ásia. A chegada do golfe a Portugal deve-se à influência inglesa e terá ocorrido por volta de 1890. Espinho assumiu-se como o berço da modalidade em Portugal e o Oporto Niblicks Club - actual Oporto Golf Club - foi o primeiro clube português de golfe. No início do século, a modalidade estendeu-se à capital, surgindo instituições como o Clube de Golfe do Estoril e o Lisbon Sports Club, ambos de origem inglesa.

 

Revista "Valor" nº 286 - 24 a 29 Abril 1997

 


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Revised: 09-11-2000.