HANDICAPS VIRTUAIS. UM PRESENTE DADO NA QUINTA DO LAGO

Por, José Dias Pereira
Presidente do C. G. dos Economistas
Janeiro 2003

Os jogadores da Quinta do Lago foram presenteados com aumentos nos seus handicaps exactos que chegaram a mais de 3 pancadas. Isto porque se reclassificaram os campos Norte e Sul (antes Ria Formosa e Quinta do Lago) daquele local algarvio.

Uma alteração deste jaez, em dois dos campos mais concorridos do país e onde centenas de praticantes têm o seu abono estabelecido, merece uma análise muito cuidada dado que irá ter consequências doutrinárias importantíssimas em futuras e absolutamente necessárias reclassificações de outros campos.

Foi o procedimento usado correcto? Julgamos que não pelas razões que aduziremos.

 

A RECLASSIFICAÇÃO DOS CAMPOS

Já expressamos em artigo publicitado neste sítio (Arquivo Notícias *) o nosso apreço pelo sistema de abonos, quanto a nós mais evoluído que o americano, bem como ser a má classificação de alguns campos a principal razão pelo descontentamento que o sistema possa proporcionar.

Daí ser fundamental fazer uma análise estatística do comportamento de tais classificações face aos resultados obtidos nas competições ali realizadas.

Campos onde sistematicamente resultados de 40 pontos stableford são usuais ou outros onde raramente se atingem os 36 estarão, por razões opostas, indiciariamente mal classificados.

Depois sim, estar-se-à habilitado a saber quais os campos a ser reclassificados.

 

TERÃO OS HANDICAPS BASEADOS NESSES CAMPOS DE SER ALTERADOS?

Este o aspecto mais melindroso das consequências duma reclassificação. Eventuais alterações de handicap exacto, para que se mantivessem os de jogo, teriam não só influência no resultado das competições disputadas nesses campos, através dos jogadores de fora, como nas disputadas pelos jogadores desse campo quando fora dele. E, mais importante, nos handicaps de todos.

Acresce que a realidade portuguesa nos diz que a maioria dos jogadores filiados na FPG pertence a clubes sem campo cujo handicap é construído com resultados obtidos nos mais diversos campos que não o que serve de referência ao seu Clube de filiação. Casos haverá em que o primeiro handicap até terá sido atribuído por resultados feitos fora desse campo de referência.

A referida alteração de handicap exacto não faria qualquer sentido.

A alteração da classificação de meia dúzia de campos e correspondente alteração de handicaps originaria uma convulsão no desporto, pelo que tornamos a referir o melindre desta questão.

ACHAMOS que face à realidade do Golfe em Portugal e ao bom senso deve prevalecer a opinião da United States Golf Association, a introdutora do sistema, que tivemos o cuidado de consultar, segundo a qual "nestes casos se terá de determinar uma data a partir da qual os novos valores da reclassificação entram em vigor, mantendo-se o mesmo handicap exacto que os jogadores têm nessa data".

 

O QUE SE FEZ NA QUINTA DO LAGO

De acordo com o divulgado no "Quarterly update" nº 30, editado pelo Clube de Golfe da Quinta do Lago, que tem dirigentes que integram a totalidade, ou quase, da Comissão de handicaps da FPG, a reclassificação fez-se por se achar (feeling) que os campos estavam mal classificados, sendo os handicaps alterados por notificação ao Clube da referida Comissão.

  • Resultados da reclassificação

A reclassificação originou as seguintes alterações dos tees amarelos (homens):

Slope Rating – De 132 em ambos os percursos para 125 e 118 (Norte e Sul)
Course Rating – De 71,2 para 69,9 no Norte e 71,7 para 70,4 no Sul

Não poderemos discutir a validade destes valores, embora nos tenham informado (não o confirmámos) que apenas tenham trabalhado dois classificadores, o que, a ser verdade, seria um erro grosseiro que invalidaria aqueles números.

  • O aumento dos handicaps

Os handicaps foram aumentados através duma fórmula expedita mas bizarra que, espantosamente, não relaciona o SR e CR dum campo, como deveria ser pois é a essência do sistema, mas a média dos ratings dos dois campos da Quinta do Lago, ou seja, um CAMPO VIRTUAL.

A fórmula usada foi :
Novo handicap = Handicap à data da reclassificação x 132/122 + (71,5 – 70,2)

Aos jogadores da Quinta do Lago desejou-se manter aqui os mesmos handicaps de jogo (mas em que campo?), porém, a todos os outros, de outros Clubes, que ali obtiveram Resultados Válidos desde Dezembro de 2000 e deveriam, pela mesma lógica, ter o seu alterado, nada foi feito, nem será, nem é praticável, para se efectuar a justa correcção.

 

CONCLUSÕES

Não colocamos em causa, nem o poderíamos, o trabalho da FPG, a quem já expusemos o assunto anteriormente, mas apenas achamos que é nossa obrigação chamar a atenção para aspectos que podem afectar negativamente esse trabalho encetado com sucesso e merecedor de toda a nossa colaboração.

Não estamos preocupados com a subida de handicaps dos sócios do CGQL, clube de que aliás somos sócios há cerca de 15 anos e que prima por uma organização técnica exemplar, até porque são na sua quase totalidade estrangeiros que jogam pouquíssimas competições fora do clube e são completamente alheios ao golfe nacional.

O que está verdadeiramente em causa foi ter sido encetado um processo de reclassificação de campos sem um modelo tecnicamente correcto e que tivesse em vista a realidade do golfe nacional.

Nota-se, compreensivelmente, dado estarem confinados ao Algarve e desconhecerem o que se passa no resto do País, que a Comissão que trata destes assuntos evidencia uma filosofia de actuação pouco flexível que não se coaduna com o objectivo último que é o de fazer com que todos os golfistas tenham um handicap e aceitem um sistema que se afigura justo. Pensamos que uma maior atenção aos assuntos e um maior contacto com os Clubes aproveitando a experiência destes resolverá estas insuficiências.

* nota do editor

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Revised: 05-03-2003 .