O
Golfe nas Escolas
Fernando Fragoso
04/02/2008
É
frequente ouvir dizer que o golfe é uma modalidade desportiva para
‘velhos’. Tal porém, não corresponde à verdade. Isto, porque qualquer
jovem se pode iniciar no golfe, com alguma consistência, a partir dos
seis anos, podendo depois vir a pratica-lo ao longo de toda a vida.
No
caso português, a maioria dos jogadores ‘chegam’ ao golfe muito tarde,
com idades que rondam os trinta anos, após terem consolidado as suas
vidas profissional e familiar.
Esta
realidade, não se verifica apenas em Portugal, uma vez que, num recente
inquérito efectuado nas Ilhas Britânicas se concluiu que, apenas 8% dos
praticantes de golfe tem idades inferiores a 18 anos.
Não
sabemos se esta percentagem será a mesma entre nós, o que, se tal
acontecer nos levará a contabilizar um número ao redor dos mil
jogadores.
Em
Portugal, faltam campos de golfe onde se possa jogar a preços módicos e
que ofereçam lições a preços acessíveis, factos que afastam muitos
jovens, por razões económicas, desta modalidade desportiva, o que
determina, que o golfe tenha um crescimento inferior ao desejável.
A
estas razões junta-se a dificuldade de acesso dos jovens aos campos de
golfe – que, geralmente, se situam longe das suas residências e escolas
– tornando-os integralmente dependentes do transporte dos pais, que se
limitam a leva-los, aos fins-de-semana, às lições de golfe dos Clubes.
Esta
situação, porém, diz respeito apenas a alguns jovens, àqueles cujos pais
têm condições económicas e disponibilidade de tempo para assegurarem
aquele serviço aos filhos.
Este
quadro de acesso dos jovens aos campos de golfe nega, a todos aqueles
que não se integram no mesmo, a oportunidade que o golfe lhes pode
oferecer, de se desenvolverem física e intelectualmente.
O
golfe é uma modalidade desportiva, que, como algumas outras, incute nos
jovens valores humanos fundamentais, como os enunciados pelo “The First
Tee”, organização criada por iniciativa da “World Golf Foundation”, nos
EUA, que tem como missão ‘influenciar a vida dos jovens, oferecendo-lhes
instalações e programas educativos que favorecem o desenvolvimento da
personalidade e a apreensão dos valores da vida, através da prática do
golfe’.
Em
anexo apresentamos os ‘Nove valores humanos fundamentais’ que segundo o
“The First Tee", o golfe pode transmitir aos jovens.
Para
inverter actual estado de coisas e fazer com que os jovens, na idade
escolar, se iniciem no golfe e apreendam os valores humanos que atrás
referimos, certos países, como os EUA; o Canadá; a Austrália; o Reino
Unido; e, a Bélgica, entre outros, têm procurado estabelecer programas
escolares de ensino do golfe.
Para
tanto, contam com o interesse e a colaboração dos Professores de
Educação Física (PEF), considerando-os agentes privilegiados do ensino
desta modalidade nas suas aulas, após terem recebido, eles próprios, a
formação exigida para o efeito.
Com
tal objectivo surgiram: nos EUA, em 2003, o “The First Tee National
School Program”; no Canadá, em 1996, o programa “CN Future Links; na
Austrália, em 2000, o “The Golf for Schools”, instituído pelo Golf
Australia; também, em 2000, os programas Tri-Golf e Golf Xtreme, da Golf
Foundation do Reino Unido; e, o Kid’s Tour, suportado, desde 2005, pela
Júnior Golf Foundation Belgium.
Em
Portugal, o programa Drive, da Federação Portuguesa de Golfe, organiza
torneios para jovens de diversos escalões etários, ficando o ensino
resumido às escolas dos Clubes que, para o efeito, fornecem as suas
infra-estruturas, deixando o ensino a cargo de profissionais de golfe,
com especiais aptidões para lidarem com jovens e, aos quais, facturam os
seus serviços.
A
aprendizagem do golfe nas Escolas, seria quanto a nós, uma boa solução
para preencher o quase vazio, que hoje existe neste dominio, o qual
poderia ser colmatado pelas Autarquias que dispõe já de várias
instalações desportivas: pavilhões desportivos, piscinas, campos de
futebol, de ténis, etc, encontrando-se, muitas delas, em condições de
abarcarem mais esta modalidade.
O
golfe que aqui falamos é aquele que, primordialmente, se destina à
população jovem das Autarquias e que, não carece de grandes
investimentos em infra-estruturas, sendo suficiente, para tanto,
dispor-se de um campo com uma área de ensino, por exemplo, um ‘Pitch &
Putt’ (ver
aqui).
Com
estes meios humanos e materiais é possível instituir o programa que
podemos designar por ‘1ª Tacada’ o qual permitiria aos jovens, a
‘brincar’, conhecerem o golfe e ‘tirarem’ deste jogo tudo o que ele tem
de lúdico e formativo.
Mas
como se conseguiria tal desiderato?
As
Escolas a considerar no âmbito do programa ‘1ª Tacada, seriam as do 1º
Ciclo do Ensino Básico (CEB), as quais se encontram distribuídas pelas
diversas freguesias de cada Autarquia.
Dependendo do número de jovens que frequentam as Escolas do 1ºCEB da
Autarquia, poderia admitir-se, que os alunos que frequentam as Escolas
do 2ºCEB - cujas idades vão dos 11 aos 12 anos – fossem incluídos no
programa, ainda que, estas Escolas não se encontrem, actualmente, na
esfera das responsabilidades educativas das Autarquias.
Tomando como base de trabalho, os alunos com idades entre os 6/7 e os
9/10 anos, que frequentam o 1ºCEB, haveria que determinar, num primeiro
tempo, quais as Escolas em que os PEF, pais e alunos se mostrem
interessados no programa ‘1º Tacada’, após este lhes ter sido,
previamente apresentado e explicado.
Uma
vez conhecidas as Escolas do 1ºCEB da Autarquia que desejariam seguir o
programa ‘1º Tacada’, haveria que proceder-se a um inventário do número
de PEF e alunos que, em cada Escola, seriam abrangidos pelo programa,
efectuando-se depois, num primeiro passo, a formação dos PEF desses
estabelecimentos de ensino.
Nas
Escolas interessadas no programa ‘1ª Tacada’, dever-se-ia também
inventariar as condições que possuem, para a prática dos jogos do
programa, quer nos seus espaços cobertos, quer ao ar livre.
Dispondo do número de alunos que frequentariam a ‘1ª Tacada’, seria
possível planear as actividades a desenvolver nas Escolas e as que
seriam efectuadas no campo de golfe ou num pavilhão desportivo quando as
condições climatéricas a tal obrigarem.
Sabendo o número de alunos de cada Escola, e as localizações das
infra-estruturas onde se poderiam desenvolver as actividades formativas,
seria então possível definirem-se os calendários e os horários das
mesmas.
Para
que o programa ‘1ª Tacada’ seja exequível, torna-se fundamental que as
Autarquias garantam aos PEF e alunos, o transporte para os locais de
ensino do golfe exteriores às Escolas e o respectivo regresso às
mesmas.
É
evidente que todo este esquema de ensino do golfe nas Escolas pressupõe
a criação, em cada Autarquia, duma entidade que promova e desenvolva os
programas, um Grupo de Trabalho, que deveria ser constituído, pelo
menos, por: responsáveis das Divisões de Educação e do Desporto da
Autarquia; um treinador profissional de golfe; dois a três PEF com
conhecimento aprofundado do programa ‘1ª Tacada’; e, um elemento para
assegurar os trabalhos de gestão e de logística que o programa implica.
O
programa ‘1ª Tacada’, deverá ser suportado por manuais de ensino que se
destinam em especial aos PEF de cada Escola.
O
programa ‘1ª Tacada’ além destes manuais de ensino, deverá dispor de
equipamento, adaptado aos recintos de ensino e às idades dos alunos,
material que garanta boas condições de segurança como, por exemplo, o
conhecido pela sigla, SNAG – Starting New At Golf (ver
anexo).
Este
equipamento destina-se, especialmente, aos alunos do 1º e 2º CEB.
Os
alunos destes Ciclos que tiverem concluído o programa ‘1ª Tacada’, bem
como, os dos Ciclos seguintes e até à idade de 16 anos, deverão, os
primeiros, prosseguir a sua formação , os restantes inicia-la, inseridos
no programa ‘Outras Tacadas’, o qual lhes será ministrado no campo de
golfe com equipamento tradicional, ajustado às suas idades.
Qualquer aluno dos dois primeiros Ciclos poderá frequentar o programa
‘Outras Tacadas’, independentemente da idade, desde que reúna as
necessárias aptidões para acesso ao mesmo.
Dado
que a montagem e execução dos programas ‘1ª Tacada’ e ‘Outras Tacadas’
exige recursos financeiros, que variam de acordo com o número de Escolas
de cada Autarquia, torna-se importante que estas avaliem o custo da
implantação dos Programas, e procurem patrocinadores para os mesmos,
isto para poderem oferecer, gratuitamente, este serviço à juventude da
sua comunidade.
Esperamos que as ideias expressas neste artigo possam vir a ser, em
breve, implantadas em algumas Autarquias do país, para bem da nossa
juventude e do crescimento do golfe nacional.
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