Seguir as pisadas – ou, melhor dizendo, as tacadas – de Filipe Lima e
Ricardo Santos não estava nos seus planos mais imediatos: «Foi
inesperado. Este ano o meu objetivo era aprender o máximo possível, ver
o que teria de trabalhar nos próximos anos para conseguir ter sucesso no
Challenge Tour ou no European Tour. Esta última semana não estava à
espera de uma vitória».
De repente, com o Portugal Masters às portas, o jovem que durante dois
anos pouco veio ao país natal por estudar e competir nos Estados Unidos,
jogando pelos Knights da Universidade Central da Florida, viu-se forçado
a tirar um curso intensivo de súbita notoriedade pública: «É algo a que
não estou habituado e que no futuro terei de trabalhar. Na segunda-feira
foi de facto difícil, conciliar as entrevistas com o treino. Na
terça-feira já foi melhor e hoje consegui fazer o meu trabalho melhor.
«Muita gente queria entrevistas individuais e nos dois
primeiros dias fiz a vontade às pessoas, porque é uma vitória
importante, não só para mim como para o país, mas hoje tentei ao máximo
concentrar-me para este torneio, para obter o melhor resultado possível.
«Também tentei ao máximo responder a toda a gente no
Facebook. Não foi possível apanhar todas as mensagens. O apoio foi
incondicional».
A necessidade de dar atenção aos outros não veio só de
Portugal. Afinal, “Melinho” foi até o verão uma das estrelas da equipa
dos “Knights”, onde ainda milita como “sénior” o seu amigo José Maria
Joia.
«O meu treinador (da UCF) mandou-me logo um e-mail quando
acabei, a dizer que estava muito contente, e todos os meus companheiros
de equipa mandaram-me mensagens, o que foi muito comovente. Gostei muito
de ter tido esse apoio», sublinhou.
Talvez esta tenha sido a altura mais delicada para um
sucesso como o que conheceu no EMC Golf Challenge Open, na medida em que
teria sido melhor dispor de uma semana de paragem, para digerir melhor
um triunfo que lhe mudou a vida e que irá possivelmente levá-lo ao 3º
posto do ranking da PGA de Portugal.
Sendo o Portugal Masters o mais importante torneio de
golfe português, as atenções são agora a dobrar. Até o próprio Ricardo
Santos, o nº1 português, mais habituado a estas situações, admite que
«ele talvez sinta mais a pressão… ou talvez até se sinta mais motivado».
Mas não é essa a opinião do próprio jogador que, mesmo
antes de tornar-se profissional conheceu outro momento alto, ao empurrar
a seleção da Europa para a vitória sobre os Estados Unidos na Palmer Cup:
«É bom ter já o Portugal Masters, porque o meu jogo está ótimo. Se
calhar, com uma semana de intervalo já não iria estar no meu melhor. Já
que estou a jogar bem, é aproveitar. Estou confiante».
Uma das razões para a melhoria, para além do seu habitual
bom jogo comprido, é a capacidade de fazer birdies com bons putts. A
mudança deveu-se, em parte à ajuda do amigo de longa data, Pedro
Figueiredo, que, tal como ele, também foi uma estrela do circuito
universitário americano (mas nos Bruins da Universidade da California
Los Angeles), e que, tal como ele, também treina com o conceituado
profissional galês David Llewellyn.
«Depois da primeira volta na Escola de Qualificação,
antes do torneio em Roma, eu pedi ao Pedro para ele ver como é que
estava a minha pancada de putting, e ele reparou que eu estava muito
apontado à esquerda e a fazer um bocadinho de push, a “patar” para a
direita, para compensar. Eliminei essa compensação e comecei a jogar bem
porque eu estava a jogar bem. Foi só a diferença no putting, que
representa menos 4 ou 5 pancadas no resultado».
Entretanto, com novos resultados há novas exigências, até
porque Ricardo Melo Gouveia está integrado numa jovem equipa da Hambric
Sports, que gere carreiras desportivas de golfistas famosos como o
italiano Francesco Molinari ou o norte-americano Dustin Johnson, ainda
há bem pouco tempo jogadores de Ryder Cup.
Rory Flannagan, o empresário do campeão nacional amador
de 2009, atento a isso, aconselhou-lhe um novo treinador para um aspeto
específico, o do jogo curto: «Tive só uma aula de jogo curto com outro
treinador inglês, para ouvir uma segunda opinião. Chama-se Hugh Marr.
Foi-me aconselhado pelo meu empresário. Era para ter trabalhado com ele
antes da Escola de Qualificação, mas não houve essa oportunidade. Agora,
uma vez que ele está cá, em Vilamoura, aproveitámos. Deu-me imenso
jeito para as próximas semanas e quero continuar a trabalhar com ele,
não tão a fundo como trabalho com David Llewellyn, que já trabalha
comigo há muito tempo, mas sempre que precisar irei ter com ele».
Outro aspeto em que é preciso pensar é no financiamento
da carreira. Uma época no Challenge ou no European Tour são largas
dezenas de milhares de euros: «Para já, só tive contacto de uma marca de
roupa, que mostrou interesse. De resto, estou com a Srixon há dois
meses, mas só agora assinei o contrato oficialmente. Eu jogava com Ping
há 6 ou 7 anos, mas depois de ter acabado a universidade eles apoiaram
três jogadores e deixaram-me de fora.
«Da parte da marca de roupa, a Simone Moss, que é a
representante em Portugal, ajudou-me esta semana com alguns produtos, e
para já não há mais nada. A Srixon apoia-me em material mas também
engloba apoio financeiro e fiquei impressionado com os seus produtos,
porque são mesmo bons».
Regressar a Vilamoura, ao clube que o catapultou para a
ribalta – sendo ele mais um produto do famoso treinador Joaquim Sequeira
–, tendo depois beneficiado também das equipas técnicas da Federação
Portuguesa de Golfe, é sempre um prazer: «Sempre foi a minha segunda
casa. Mesmo que agora treine mais na Quinta do Lago por ser mais perto,
a verdade é que eu cresci aqui, comecei a jogar aqui, vim aqui para as
escolas de jovens do Clube de Golfe de Vilamoura, que me apoiou, como
mais tarde me apoiou a FPG. Sem eles não estaria aqui».
Há dois anos, passou o cut como amador e depois sentiu na
pressão de jogar em casa nos dois últimos dias de prova. Julga que se
voltar a ser bem sucedido no Oceânico Victoria, irá saber gerir melhor a
situação: «Não só essa experiência (de há dois anos), mas também as que
tive nestas duas últimas semanas. Quanto mais cedo eu tiver essa
experiência melhor, e mais cedo estarei preparado para conseguir os meus
objetivos a longo prazo».
Objetivos agora facilitados. A vitória em Roma e a subida
ao 49º posto do ranking do Challenge Tour garantiram-lhe o acesso à
segunda divisão europeia a tempo inteiro em 2015 e, quem sabe, até mesmo
o European Tour: «Saber que já estou no Challenge tirou-me muita
pressão. Aliás, não vou jogar o primeiro torneio do Challenge Tour Final
Swing na China, para parar uma semana e descansar. Já estou a tratar do
visto para jogar o segundo torneio na China e no Omã. Se entrar nos 45
primeiros vou à Grande Final do Challenge Tour no Dubai e entro
diretamente na Final da Escola de Qualificação».
Portanto, se tudo correr bem, Ricardo Melo Gouveia terminará a época no
top-15 do ranking do Challenge Tour e subir logo ao European Tour
(primeira divisão); se correrem mais ou menos poderá ainda tentar a sua
sorte na Final da Escola; se correrem mal ainda irá jogar a Segunda Fase
da Escola; e o pior cenário é jogar o Challenge Tour por inteiro em
2015. Nada mau, para quem tem apenas 23 anos e só em julho se tornou
profissional!
Press-release
9 de Outubro 2014