Num
dia de recordes no Oceânico Victoria Golf Club, há dois
portugueses pela primeira vez na luta por um título do PGA
European Tour. Ricardo Santos e Filipe Lima, que até são
geridos pelo mesmo empresário e partilham a mesma psicóloga,
assumem uma saudável rivalidade no último dia do Portugal
Masters, o mais importante torneio de golfe nacional.
Filipe Lima partiu para a penúltima volta na terceira
posição mas acabou-a no 24º posto, com os mesmos 10 abaixo
do Par. O profissional da Federação Portuguesa de Golfe
chegou a andar em duas ocasiões a 13 abaixo, mas um ‘bogey’
no 16 e um duplo no 18 (o segundo ‘shot’ foi à água) não lhe
permitiram igualar o agregado de 13 abaixo de Ricardo
Santos, que vai partir para os últimos 18 buracos no grupo
dos sextos classificados, uma melhoria de 24 postos.
Deu-se, portanto, uma inversão da realidade de 24 horas,
agora com Lima a perseguir o mais novo dos irmãos Santos,
que se colocou na luta pelo seu primeiro título do European
Tour e logo no campo que ele próprio representa.
Há um ano, foi um jogador do Grupo Oceânico, o inglês Lee
Westwood, a ganhar o Portugal Masters. O futuro nº1 mundial
não foi esquecido e hoje mesmo (sábado) os trabalhadores e
directores da empresa reuniram-se no ‘green’ do buraco 18
para assinar uma placa gigantesca que desejava as melhoras
ao britânico, impedido de defender o título devido a uma
lesão.
Westwood é, sem dúvida, um jogador da casa, mas uma vitória
de Ricardo Santos teria um sabor ainda maior. André Jordan,
o primeiro proprietário do Oceânico Victoria, recordou hoje
aos microfones da SportTV «aquele menino que começou a jogar
golfe aqui aos 12 ou 13 anos», enquanto Gerry Fagan, um dos
actuais proprietários do campo e administrador do Grupo
Oceânico sublinhava «a importância para Portugal de ter dois
jogadores no topo da classificação».
Há um bom relacionamento entre ambos. Ricardo explicou que
tem «a mesma psicóloga» de Lima (Zoe Chamberlain) e que se
sente melhor «numa equipa com bons jogadores», uma
referência a Pedro Ribeiro, o empresário comum (ver
entrevista).
Também Filipe salientou a novidade positiva de «o público
português poder seguir dois jogadores», dado ser a primeira
vez que há dois lusos na última volta do Portugal Masters
(ver entrevista).
Mas na hora da verdade é impossível não haver uma saudável
rivalidade, como brincou Lima, ao dizer que «o nº1 é só um»,
ao mesmo tempo que se manifestava «muito contente pelo
Ricardo».
Santos nunca ganhou qualquer torneio do European Tour,
procurando, por isso, o seu primeiro título. E se jogou todo
de vermelho por ser benfiquista, acreditando que isso lhe
terá dado alguma sorte, quem sabe se o facto de ter a
companhia da sua filha no campo poderá impulsioná-lo amanhã
para a vitória? Esta é a palavra certa, dado que a menina
chama-se Vitória e o campo Victoria. «Ela poderia ter sido
baptizada Francisca ou Vitória e foi este o nome que
escolhemos, não pelo campo, mas porque é um bom nome
português, um nome com força», comentou Rita Brissos, a
mulher de Ricardo Santos.
O actual nº3 da Ordem de Mérito da PGA de Portugal está a
apenas cinco pancadas do líder, o espanhol Pablo Martín
(-18), pelo que tudo é possível. Até mesmo Filipe Lima não
está totalmente fora do baralho. Não seria a primeira vez
que um jogador venceria após recuperar de um atraso de oito
‘shots’ e o próprio Lima recordou que ontem (sexta-feira)
foi exactamente esse resultado (-8) que arrancou. Claro que
mais realisticamente o nº1 da Ordem de Mérito da PGA de
Portugal visará um ‘top-ten’, ele que já ganhou um torneio
do European Tour em 2004, quando ainda era francês.
A terceira volta do evento integrado no Allgarve, de três
milhões de euros em prémios monetários, começou com o
dinamarquês Jeppe Huldahl a fechar uma volta quase perfeita
de 61 pancadas (-11), igualando o recorde do campo desenhado
pelo mítico Arnold Palmer, fixado pela primeira vez no
Portugal Masters de 2007, pelo actual nº4 mundial e nº1 da
Corrida para o Dubai, o alemão Martin Kaymer.
Não é a primeira vez que Huldahl se apodera de um recorde de
um campo em Portugal. Em 2002, no Campeonato da Europa
Amador, o compatriota da nº1 do ténis mundial (Caroline
Wozniacki) já tinha surpreendido com um excelente cartão de
67 pancadas (-5) no Tróia Golf.
«O que posso dizer? Adoro jogar no vosso país», disse à
saída de uma conferência de Imprensa em que foi saudado por
não só ter igualado o recorde do Oceânico Victoria, mas
sobretudo por ter empatado o recorde do European Tour para o
número de ‘birdies’ numa única volta: 12. Nessa estatística
figura agora ao lado de nomes consagrados como os vencedores
de ‘Majors’ Fred Couples e Ernie Els, e ainda de Darren
Clarke e Russell Claydon.
Jeppe Huldahl ficou também a apenas um ‘birdie’ de igualar
outro máximo europeu, o de ‘birdies’ consecutivos. O
lendário Seve Ballesteros, Ian Woosnam, Mark O’Meara, John
Bickerton e Tony Johnstone fizeram oito, enquanto o
escandinavo ficou-se pelos sete entre os buracos 11 e 17.
Mas os recordes poderão ainda não ter ficado por aqui, dado
que a excelente volta de 63 pancadas (-9) de Pablo Martín
colocou-o no comando da prova com um agregado de 18 abaixo
do Par, ou seja, a sete ‘shots’ do ‘score’ de -25 que o
inglês Steve Webster apresentou para vencer a primeira
edição do torneio organizado pelo Turismo de Portugal e pelo
Turismo Algarve, em 2007.
Quem se pode esquecer de Webster olhar para o céu após o
putt da vitória e das lágrimas vertidas enquanto explicava
aos jornalistas que sabia que estava a ser visto pela sua
mãe (Valerie) falecida há pouco tempo? Pablo Martín poderá
viver algo de semelhante depois de hoje ter contado aos
jornalistas que a morte do seu pai (Gonzalo) no passado mês
de Janeiro esteve na origem da quebra abrupta de bons
resultados após uma vitória logo no início da época no
Alfred Dunhill Championship, na África do Sul: «O meu pai
morreu na luta contra o cancro. Tenho tentado voltar aos
bons resultados mas tem sido frustrante. Vim para este
torneio um pouco frustrado e zangado e talvez seja essa a
razão que me levou a jogar melhor».
Outro dos motivos poderá ser o facto de partilhar com o seu
famoso conterrâneo de Málaga, Miguel Angel Jiménez, o prazer
de jogar em Portugal. Pablo jogou vários torneios amadores e
em 2007, no Oitavos Dunes, tornou-se no primeiro amador a
vencer um torneio do European Tour, no Estoril Open de
Portugal. Na altura escapou-lhe o cheque de 208 mil euros
por não ser profissional, mas desta feita olha de outra
forma para o meio milhão de euros que irá premiar o
vencedor. Um triunfo no Portugal Masters catapultá-lo-ia
para o ‘top-60’ da Corrida para o Dubai que se apura para o
Campeonato do Mundo do Dubai. «Jogar em Portugal é ainda
melhor do que jogar em casa. Adoro. Vêm imensas pessoas de
Málaga, ficamos alojados todos num condomínio durante a
semana, criamos um óptimo ambiente e depois… aqui há a
cerveja Sagres», gracejou o 87º golfista europeu.
Pablo Martín (-18) terá como principais adversários o inglês
Oliver Wilson (-15) e o dinamarquês Jeppe Huldahl (-15),
numa derradeira jornada que se prevê emocionante e
imprevisível (ver
resultados e
saídas). A primeira saída é às 08:40 horas e a última às
13:48 h. Filipe Lima sai às 11:37 h e Ricardo Santos às
13:21 h. Prevê-se uma forte afluência de público. Segundo
dados do PGA European Tour, hoje foi a melhor terceira volta
de sempre do torneio, com 7.890 bilhetes vendidos (mais um
recorde do dia) e no somatório já se venderam 24.208
ingressos no Portugal Masters de 2010, igualando o total do
torneio de 2007!