Um
novo recorde de afluência de público num torneio de golfe em
Portugal foi o cenário perfeito para coroar Ricardo Santos
ou, eventualmente, Filipe Lima, mas foi Richard Green a
conquistar o IV Portugal Masters, o mais importante evento
golfístico nacional, de três milhões de euros em prémios,
que o European Tour organizou no Oceânico Victoria Golf Club,
sob o patrocínio do Turismo de Portugal e do Turismo
Algarve.
Para quem pensava que Filipe Lima estava fora da luta pelo
título pelo simples facto de partir para a última volta a 8
pancadas do líder, Pablo Martín, Richard Green veio provar
que estas recuperações espectaculares são possíveis. O
australiano estava a 7 ‘shots’ do espanhol e acabou por
igualar a melhor recuperação da época, de Simon Khan que
também superou um défice de 7 pancadas nos últimos 18
buracos para vencer o BMW PGA Championship.
«Senti que precisava da melhor volta de golfe que fosse
capaz e na minha cabeça estava um cartão de 64 pancadas»,
disse Green, de 39 anos, mas, afinal, um ‘score’ de 65 (-7)
bastou para somar o sexto título internacional da sua
carreira, o terceiro no European Tour, depois do Dubai
Desert Classic em 1997 e do BA-CA Golf Open (Áustria) em
2007.
O Portugal Masters, com os seus três milhões de euros em
prémios, meio milhão dos quais para o campeão, é mais o mais
importante título da carreira do australiano, mas ele
afiança que todos tiveram igual relevância e recordou, por
exemplo, como nos Emirados Árabes Unidos se impôs num
‘play-off’ aos antigos nº1 mundiais Greg Norman e Ian
Woosnam.
De qualquer modo, mesmo sem querer destacar a superioridade
do Portugal Masters, garante que virá «defender o título no
próximo ano» e não escondeu que a subida ao 22º lugar da
Corrida para o Dubai assegurou a sua presença no
Campeonato do Mundo do Dubai de 2010, onde o vencedor
arrecadará cinco milhões de euros: «É incrível como a
realidade e os objectivos se podem alterar num instante».
Richard Green totalizou 270 pancadas (70+66+69+65), 18
abaixo do Par do Oceânico Victoria, exactamente o mesmo
resultado de -18 que carimbara na Penha Longa, em Junho,
onde se sagrou vice-campeão do Estoril Open de Portugal,
batido apenas por Thomas Bjorn.
Manuel Agrellos, o presidente da Federação Portuguesa de
Golfe, explicou da melhor maneira o que se passou hoje em
Vilamoura ao dizer que «foi o Pablo Martín quem perdeu o
título e não o Richard Green quem o ganhou». Com efeito, o
australiano, apesar dos 11 ‘birdies’ efectuados, fechou com
dois ‘bogeys’ nos três últimos buracos, dando algum sinal de
fragilidade (ver
entrevista).
Por essa altura, Pablo Martín, campeão do Estoril Open de
Portugal de 2007 no Oitavos Dunes, estava em posição
privilegiada de somar o seu segundo título da época depois
do Alfred Dunhill Championship em Janeiro. Mas o espanhol de
24 anos, que este ano perdeu o pai e ainda não se recompôs,
sofreu uma derrocada psicológica, não aguentando a pressão.
Nos últimos 12 buracos sofreu dois ‘duplos-boggey’ (no 7 e
no 18) e três ‘bogeys’ (13, 15 e 16), para apenas dois
‘birdies’ (12 e 17). «Estou envergonhado do que fiz. O que
posso dizer depois de isto? Simplesmente fui-me abaixo, não
estive à altura», lamentou-se o jogador de Málaga, que
tombou para o grupo dos 6º classificados, com 15 abaixo do
Par, empatado com Peter Lawrie e David Dixon.
A segunda posição foi partilhada por quatro jogadores: os
famosos Robert Karlsson e Francesco Molinari e os menos
mediáticos Joost Luitten e Gonzalo Fernandez-Castaño, todos
com 16 abaixo do Par. Note-se que o sueco Karlsson arrancou
o seu terceiro ‘top-ten’ em quatro anos no Portugal Masters,
enquanto o italiano Molinari repetiu o estatuto de
vice-campeão de 2009, tendo na altura cedido perante Lee
Westwood. A diferença é que este ano Francesco encerrou com
uma excelente última volta em 62 pancadas (-10), graças a um
‘eagle’, nove ‘birdies’ e um ‘bogey’! (ver resultados em
anexo).
«Se até o Pablo Martín, que tem uma rodagem competitiva
completamente diferente dos jogadores portugueses, é capaz
de acusar a pressão desta forma, como é que nós podemos
exigir mais aos nossos?», indagava-se Manuel Agrellos. O
presidente da FPG afirmou-se «orgulhoso do Ricardo e do
Filipe». E numa semana em que «tudo correu na perfeição,
desde as condições meteorológicas, à organização, passando
pelo elevado nível de jogo e o reforço da candidatura
portuguesa à Ryder Cup de 2018, confessa ter-se sentido
«emocionado pelas prestações do Ricardo e do Filipe».
Ricardo Santos, de 27 anos, também acusou a pressão de lutar
por um cheque de meio milhão de euros numa época em que só
somou 13 mil. Admitiu ter entrado nervoso (ver
declarações), apesar
de todo o apoio que o motivou. Dois ‘bogeys’ nos três
primeiros buracos foram o pior início possível. Não mais se
recompôs. Ainda levantou a cabeça com ‘birdies’ nos buracos
5, 8 e, sobretudo no 13, mas fechou a contagem com quatro
‘bogeys’ seguidos. «Nunca tinha feito 5 pancadas acima do
Par neste campo», desabafou.
Mesmo assim, não obstante tombar do 6º ao 48º posto final,
com 8 abaixo do Par, o algarvio considera que, dadas as
circunstâncias e «as lições» que aprendeu, foi uma das suas
melhores prestações de sempre em torneios profissionais e os
13.800 euros embolsados dobraram os ganhos do ano e foram o
seu segundo melhor cheque de sempre.
O melhor português voltou a ser Filipe Lima, no 36º posto,
com 10 abaixo do Par, após um derradeiro cartão a Par do
campo (quatro ‘birdies’ e quatro ‘bogeys’). O prémio de
20.700 euros permitiu-lhe apenas subir do 180º ao 164º lugar
na Corrida para o Dubai, muito longe do ‘top-115’ que apura
directamente para o European Tour (I Divisão) de 2011.
Mas Lima, de 28 anos, está confiante, diz-se a jogar «mais
consistente» (ver
declarações) e garante que se não conseguir dois ‘top-5’
nos torneios espanhóis que se avizinham irá tentar a sorte
«na Escola de Qualificação». E se todos estes planos
falharem, não tem problemas em ser despromovido «ao
Challenge Tour (II Divisão) em 2011», convicto que que ainda
é «jovem» e poderá «voltar em força».
Venderam-se 12.115 bilhetes, um recorde num único dia,
superando os 10.504 da última jornada do ano passado. No
final do torneio, foram comprados 36.223 ingressos,
ultrapassando pelo segundo ano seguido a fasquia dos 35 mil.
Em anos anteriores os espectadores estrangeiros esmagavam os
portugueses, desta feita ouviu-se o rugir lusitano que
tentou empurrar para a vitória Ricardo Santos (Oceânico Golf/
FPG / Press People) e Filipe Lima (FPG / TMN).
Aos microfones da SportTV, o seleccionador nacional,
Sebastião Gil, disse que «é possível haver um português numa
selecção da Ryder Cup se Portugal organizar o evento em
2018» e entre os nomes possíveis incluiu Santos e Lima.
Acreditar é, sem dúvida, a palavra de ordem e hoje
percebeu-se como Richard Green, habituado a altas
velocidades, pois há dois anos seguidos que compete com o
seu Porsche na categoria GT do Grande Prémio da Austrália,
nunca temeu a desvantagem de 7 pancadas que superou neste
último dia.
Foi essa agressividade que lhe mereceu o troféu do Portugal
Masters das mãos do secretário de Estado do Turismo,
Bernardo Trindade, que garantiu «o apoio do Governo ao golfe
nos próximos anos», regozijando-se pela «afluência de
público». Na cerimónia de entrega de prémios estiveram ainda
Gerry Fagan, proprietário da Oceânico Golf, Manuel Agrellos,
presidente da FPG, Nuno Aires, presidente do Turismo
Algarve, Joaquim Geurreiro, vice-presidente da Câmara
Municipal de Loulé, José Maria Zamora e Peter Adams,
directores do PGA European Tour.